sexta-feira, 27 de junho de 2014

Papa Francisco indisposto

A anunciada visita do papa Francisco, hoje às 15h30, ao Hospital Gemelli foi cancelada, mesmo em cima da hora, cerca das 15h, por indisposição do papa. 
O Hospital Gemelli, da Universidade Católica Italiana. comemora 50 anos e é dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, festa que a Igreja celebra neste dia.
O papa é substituído pelo cardeal Scola, que administra a UCI, através do Instituto Toniolo, que na homilia usará a texto preparado pelo papa Francisco.

Junho - Mês do Sagrado Coração de Jesus

Mês do Sagrado Coração de Jesus
27 de Junho 2014


Santa Margarida Maria de Alacoque (1647  1690)

Ficou órfã de pai muito nova.
Os familiares que a recolheram e à sua mãe fizeram-nas passar grandes humilhações e maus tratos e negaram a Margarida Maria a possibilidade de entrar num convento.
A devoção levou-a a preparar uma confissão geral antes de receber o Crisma aos 22 anos, recolhendo-se 15 dias a escrever os seus pecados.
24 Junho 1673 teve uma visão de Jesus.
A visão repetiu-se durante 2 anos nas primeiras sextas-feiras de cada mês.
Em 1674 tornou-se monja na Ordem da Visitação de Santa Maria
Na última visão de Jesus, em 1675, Ele disse-lhe:
Eis o Coração que tem amado tanto aos homens a ponto de nada poupar até exaurir-se e consumir-se para demonstrar-lhes o seu amor. E em reconhecimento não recebo senão ingratidão da maior parte deles.
Foi beatificada em 1864 e canonizada em 1920.



Como se determina o dia da Festa do Sagrado Coração de Jesus?
A Páscoa é o primeiro Domingo depois da primeira Lua Cheia que ocorre a partir de 21 de Março inclusive. Ora, 21 de Março é a data do Equinócio da Primavera, primeiro dia da Primavera, ou era assim considerado noutro tempo, o primeiro dia de Primavera. Pode ainda haver algum desajustamento porque na altura foram elaboradas umas tabelas do movimento lunar e adoptadas pela Igreja, que eventualmente apresentarão pequenas discrepâncias em relação ao real movimento lunar como hoje o conhecemos.
Contados 47 dias para trás marca-se a terça-feira de Carnaval; 46 dias para trás, é Quarta-feira de Cinzas, o primeiro dia da Quaresma

Domingo de Pentecostes – 50 dias após a Páscoa
Domingo da Santíssima Trindade
Quinta-feira / Domingo do Corpo de Deus
Sexta-feira do Sagrado Coração de Jesus
Sábado do Imaculado Coração de Maria

Santa Margarida Maria de Alacoque durante uma visão

Beata Maria do Divino Coração (Münster, 1863 – Porto, 1899) (Maria Droste zu Vischering)
Madre Superiora do Convento do Bom Pastor, 
Porto (apoio a raparigas mal encaminhadas)
Beata Maria do Divino Coração e Santa Margarida Maria de Alacoque
1883, Alemanha – Maria do Divino Coração escutou uma voz interior: Tu serás a esposa do Meu Coração.
1888, Alemanha – Voltou a escutar uma voz: Tens de entrar no Convento do Bom Pastor.
Teve diversas visões de Jesus e a pedido dEste, entre 1897 e 1898, insistiu com o papa Leão XIII para que consagrasse o mundo ao Sagrado Coração de Jesus.
O seu corpo incorrupto está exposto à veneração pública na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Ermesinde.
Pintora: Tarsila do Amaral

A mais antiga igreja do mundo dedicada à devoção do Sagrado Coração de Jesus é a Basílica da Estrela, em Lisboa, correctamente denominada Real Basílica e Convento do Santíssimo Coração de Jesus.



Basilique du Sacré Cœur


Cronologia geral da devoção ao Sagrado Coração de Jesus

1673-1675 – Aparições a Santa Margarida Maria de Alacoque
1790 – Termina a construção da Basílica da Estrela
1816 – Morre D. Maria I
1883 – 1ª Visão da Beata Maria do Divino Coração
1899 – Consagração do mundo por Leão XIII
1914 – Termina a construção do Sacré Coeur

A Beata Maria do Divino Coração, com Santa Margarida Maria de Alacoque, foi a grande impulsionadora do estabelecimento pela Igreja da devoção e da inserção no calendário litúrgico do Sagrado Coração de Jesus.

A Solenidade do Sagrado Coração


Solenidade do Sagrado Coração é uma festa de origem relativamente recente, ainda que a ideia subjacente seja muito antiga, e tenha inclusive as suas raízes na Sagrada Escritura, uma vez que celebramos o Amor de Deus revelado em Cristo e manifestado sobretudo na Sua Paixão.
O símbolo desse amor, é o Coração de Cristo, ferido pelos nossos pecados.
A monja Juliana Mont Cornillon, foi o instrumento de Deus para promover o estabelecimento da festa em honra da Eucaristia. Foi igualmente uma monja, Margarita Maria Alacoque, da ordem da Visitação, em França, quem impulsionou a ideia que cristalizaria numa nova festa no Calendário.
Entre 1673 e 1675, teve Santa Margarida Maria, no seu convento de Paray-le-Monial, uma série de visões em que Cristo lhe falou, pedindo-lhe que trabalhasse pela instituição de uma festa do Sagrado Coração, que deveria celebrar-se na sexta-feira depois da oitava do Corpo de Cristo.
Roma age lentamente, e por isso passaram quase cem anos, até que a Santa Sé autorizasse os Bispos polacos e a Romana Arquiconfraria do Sagrado Coração, a celebrar a dita festa. Somente em 1956, o Papa Pio IX a estendeu a toda a Igreja.
Nos anos seguintes, a festa cresceu em importância, assim como em popularidade. A Liturgia das Horas e a Missa desta festa, sofreram várias alterações. A que se levou a efeito sob a direcção de Pio XI, esteve em vigor desde 1928 até 1968. O Breviário Romano e o Missal, revistos de acordo com os princípios do Concílio do Vaticano II, foram o último passo na liturgia desta festa. O Leccionário da Missa, oferece-nos a mais ampla selecção de leituras, baseadas no sistema dos três Ciclos Litúrgicos.

O Significado da Festa

A devoção ao Sagrado Coração é a devoção ao próprio Cristo. Nas representações artísticas, não é possível mostrar apenas o coração. Há que representar Cristo na Sua Humanidade completa, porque Ele é o objecto da nossa adoração e para Ele se dirige a nossa oração. “Vinde adoremos o Coração de Jesus, ferido por nosso amor”.
Quando falamos do Coração de Jesus ou de um coração humano, que queremos dizer? - Referimo-nos a um órgão humano ou a uma metáfora?
Isso depende do contexto do nosso discurso, mas, segundo Karl Rahner num reflexão filosófica sobre o tema “coração”, é um desses termos primordiais que encerram um rico significado e valor e apontam para um mundo de realidades.
O coração representa o ser humano na sua totalidade. É o centro original da pessoa humana, o que lhe dá unidade. O poeta Yeats falou do “núcleo profundo do coração”.
O coração é o centro do nosso ser, a fonte da nossa personalidade, o motivo principal das nossas atitudes e escolhas livres, o lugar da misteriosa acção de Deus.
Apesar de nas profundezas do coração poder existir o bem e o mal, o coração é símbolo do amor. Segundo Rahner, a mais íntima essência da realidade pessoal é o amor.
E uma vez que Cristo é o Perfeito Amor, o Seu Coração é para nós o sinal perfeito do amor, o Seu Coração sempre cheio de amor ao Pai e aos homens.
Nós só entenderemos o que é o amor, tentando compreender alguma coisa do amor de Cristo. O Seu amor é totalmente, mas não somente humano, porque n’Ele nos encontramos com o mistério de um amor humano-divino. O Coração humano de Cristo está hipostaticamente unido à Sua Divindade. O Amor de Deus, incarnou no Amor humano de Cristo.
O Amor de Deus para com o homem, existe desde toda a eternidade. Os textos do Antigo Testamento, estão cheio desta evidência. “Amei-te com um amor eterno”, declara Yavé ao seu povo por meio do profeta Jeremias (Jer 31,2). A liturgia desta festa foi retirada dos seguintes textos:
A Antífona da entrada da Missa é o Salmo 32: “Os projectos do coração do Senhor, subsistem de geração em geração, para libertar as vidas dos seus fiéis da morte e alimentá-los no tempo da fome”. A resposta ao Salmo Responsorial é a seguinte: “A bondade do Senhor permanece eternamente sobre aqueles que O amam”. As leituras do Antigo Testamento para os três Ciclos, proclamam o amor de Deus para com o seu Povo, demonstrando como o escolheu e o salvou, estabeleceu com ele um pacto, conduziu-o com suavidade e amor e foi para ele um bom pastor.
Se o Antigo Testamento já revela o grande Coração de Deus, o Novo Testamento manifesta-o completamente. São João, arauto da Encarnação e do Amor de Deus, apenas consegue exclamar: “Tanto amou Deus o mundo, que lhe entregou o seu Filho Unigénito”(Jo 3,16).
O amor de Cristo ao Pai e ao homem caído, a quem veio salvar, vai levá-Lo à morte, e uma morte na cruz. Ele mesmo declarou: “Ninguém tem maior amor, do que aquele que dá a vida pelos seus amigos”(Jo 15,13).
O sofrimento e a morte na cruz de Jesus, são uma amostra do seu amor por nós. São Paulo maravilhava-se frequentemente pensando nisso: “Mas é assim que Deus demonstra o seu amor para connosco: quando éramos ainda pecadores é que Cristo morreu por nós.”(Rm 5,8).
São Paulo experimentou esse amor num nível profundamente pessoal “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. E a vida que agora tenho na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus que me amou e a Si mesmo Se entregou por mim”(Gl 2,20).
A contemplação deste mistério deveria levar-nos a uma múltipla resposta. Deveria suscitar em nós sentimentos de fé, amor e adoração.
Também de compaixão? - Também ela tem a sua parte na nossa devoção, desde que com isso não esqueçamos que Jesus Cristo, agora na Sua Glória, não pode sofrer. Mas o pensamento do muito que padeceu às mãos dos homens, pode suscitar sentimentos de compaixão.
Compadecer-se de Cristo nos seus sofrimentos e tristezas, não é um fenómeno moderno. Faz parte da piedade cristã desde tempos muito remotos, e alcançou a sua expressão máxima na Idade Média. A compaixão não está totalmente ausente da liturgia. Encontra-se de forma discreta, mas inconfundível, nas celebrações da Semana Santa, por exemplo nos “impropérios” de Sexta-feira Santa: “Meu povo, que te fiz eu…”?
Certamente, a meditação dos sofrimentos de Cristo deveria suscitar em nós a dor dos pecados, dos nossos próprios pecados e dos pecados do mundo. Mas deve também haver alegria, alegria de saber que somos amados e que foi o amor que triunfou.
Porém, a nossa devoção não deve permanecer apenas ao nível do sentimento. A palavra latina devotio, tem muito mais força que as equivalentes nas línguas actuais.
No contexto religioso, indica serviço dedicado e vontade decidida de fazer a vontade de Deus. Sugere culto não apenas de tipo litúrgico, mas da totalidade das nossas vidas.
Esta devoção realiza-se aceitando o desafio de Cristo, para que tomemos a nossa cruz e O sigamos. A Igreja e os seus membros individualmente, devem completar de uma maneira misteriosa, o que falta aos sofrimentos de Cristo.
Todos nós temos o privilégio de fazer parte da obra redentora de Jesus. Como observa Rahner: “Para nós, que participamos no destino do seu amor no mundo, é-nos permitido e, somos encorajados a continuar a paixão e morto no Corpo Místico da Igreja, até ao fim dos tempos ”.

Raízes Bíblicas e Litúrgicas

O Papa Pio XII, na sua Encíclica Haurietis aquas, sobre a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, publicada em 1956 preocupou-se em fundamentar esta devoção nas suas fontes bíblicas. A citada Encíclica é um documento importante, em que se inspirou a Missa e o Ofício da festa actuais. Também serviu de estímulo ao famoso historiador monástico Dom Jean Leclercq para traçar, num artigo escrito há anos, o desenvolvimento desta devoção desde os seus inícios, até aos nossos dias. As ideias que oferecemos nestes apontamentos, foram tomadas a partir do citado artigo.
A devoção ao Sagrado Coração de Jesus, tem a sua origem em dois textos do Novo Testamento, ambos do Evangelho de São João. O primeiro em (Jo 7,37-38): “Se alguém tem sede, venha a Mim; e quem crê em Mim que sacie a sua sede! Como diz a Escritura, hão-de correr do seu coração rios de água viva”.
Os estudiosos concordam que é uma referência ao Coração de Cristo. Para os crentes é uma fonte inesgotável de vida e benção. Esta passagem assemelha-se mais a outro texto que se encontra no final do Evangelho de São João, que recorda o misterioso facto que aconteceu depois da crucifixão (Jo 19,33-34) “Mas ao chegarem a Jesus, vendo que já se encontrava morto, não Lhe quebraram as pernas. Porém um dos soldados abriu-Lhe o peito com uma lança e logo brotou sangue e água”.
Na tradição cristã, o sangue foi interpretado como símbolo do sacrifício e do mistério eucarístico. A água simboliza o Espírito Santo, que brota de Cristo para a Igreja.
A devoção ao Sagrado Coração de Jesus, surgiu da meditação desses textos. Com o passar dos séculos, a atenção centrou-se no Coração de Jesus em vez do lado ferido, mas o mistério subjacente continua a ser o mesmo.
Os textos citados acima, colocam a festa do Coração de Jesus, no contexto da Semana Santa, concretamente em Sexta-feira Santa. Como observa o padre Plácido Murray, “a liturgia é um facto de Sexta-feira Santa, uma chama a interiorizar o culto”. O amor é a chave da Semana Santa e é ao mesmo tempo, a mensagem principal desta festa.
Na passagem do capítulo sétimo de São João, Jesus alude à profecia de Ezequiel (Ez 47), que anuncia a água viva que brota do Templo. Cristo é o cumprimento daquela profecia, o verdadeiro templo de onde brota o Espírito: “D’Ele brota sangue e água, a graça e os sacramentos; D’Ele nasce o mistério da Igreja, a salvação dos homens”.
A Liturgia relaciona estes textos não apenas com a Paixão, mas também com a Ressurreição. Já vimos como a passagem de Ezequiel é evocada durante o Tempo Pascal, no rito da benção da água e da aspersão no começo da Missa: “Vi que manava água do lado direito do templo. Aleluia. E haverá vida onde quer que chegue a corrente e cantarão, Aleluia, Aleluia”.
A antífona IV alternativa, deixa claro que esta profecia se cumpre no Calvário: “Do teu lado ó Cristo, sairá uma fonte de água viva, que limpa o mundo do pecado e renova a vida. Aleluia”.
Durante a Idade Média, a devoção ao Sagrado Coração, manteve a sua relação com o Mistério Pascal, com a Bíblia e a Liturgia. Assim o afirma Dom Leclerque, que nos diz que “consistia em aderir-se ao mistério da paixão de Cristo e à sua vitória e Ressurreição, por meio de uma fé confiante, uma vez que a sua morte e triunfo, revelaram, precisamente o amor”.
A ternura desta devoção está bem expressa nas palavras de um escrito medieval, Arnoldo de Bonneval: “Que doçura nesta abertura do seu peito! Ela revelou-nos os tesouros da bondade de Jesus, o amor que o seu coração tem para connosco”.

A Liturgia

É mais que tempo de analisarmos mais de perto os textos da Liturgia, que incluem algumas das passagens mais consoladoras do Antigo e do Novo Testamento. Para além dos textos da Escritura, temos as composições da própria Igreja, inspiradas pela Palavra de Deus e pela Tradição. Há uma grande riqueza de material para meditar e procurarmos inspiração.
O primeiro texto que iremos ter em consideração é o do ofício de Leituras, e pertence ao capítulo oitavo da carta de São Paulo aos Romanos. Ele dá-nos o título apropriado: “O amor de Deus manifesta-se em Cristo”. O Apóstolo é aqui do mais eloquente ao proclamar esse amor, de que fala com a experiência que lhe dá o tê-lo experimentado inclusive, em momentos de grandes dificuldades pessoais: “Quem me poderá separar do amor de Cristo?” E responde que nem sequer a morte, porque o amor de Cristo triunfou.
Vejamos agora o Leccionário da Missa com as suas leituras para os três Ciclos Litúrgicos. Já nos referimos anteriormente às três leituras do Antigo Testamento, que descobrem o amor de Deus. Mas ficaram por examinar as do Novo Testamento. No Ano A, é São João quem se dirige a nós (Jo 4, 7-16). A sua mensagem indica que o amor de Deus nos foi revelado quando enviou o Seu Filho ao mundo, para ser o sacrifício que tira os nossos pecados. No final da leitura, São João faz a tremenda afirmação: “Deus é amor
No Ano B, a segunda leitura é da Carta aos Efésios (Ef 3, 8-19). São Paulo afirma de si mesmo, que é o arauto do amor de Deus. Este amor vai-se desenrolando ao longo da história, num plano cuidadosamente levado a cabo e que alcança o seu ponto culminante em Cristo. A sua tarefa como Apóstolo, consiste em proclamar “o infinito tesouro de Cristo”.
A segunda parte da leitura, é uma fervorosa oração, para que os seguidores de Cristo cresçam fortes na fé e no amor, e que cheguem a um maior conhecimento do amor de Cristo, que é um mistério que ultrapassa a compreensão humana.
O amor de Cristo não está exclusivamente reservado para uma elite. Abraça todos os homens, mesmo aqueles mais rebeldes e até tem uma especial predileção e afecto, pelos pecadores. Esta verdade está maravilhosamente expressa na parábola do Bom Pastor. É significativo que esta parábola, na terna versão de São Lucas (Lc 15,3-7), foi escolhida como leitura evangélica para o Ano C. O Bom Pastor deixa o seu rebanho no redil, para ir procurar a ovelha perdida, e quando a encontra, leva-a para o redil, carregando-a sobre os seus ombros. E então alegra-se com os seus amigos por tê-la encontrado. Assim haverá grande alegria no céu por um pecador que se arrepende.
Há vários textos que chamam a nossa atenção sobre o peito trespassado de Cristo. A leitura evangélica para o Ano B, fala-nos precisamente dessa facto descrito por João (Jo 19, 31-37), que poderia ser o texto fundamental para a festa, e cujo simbolismo já foi comentado. No Ofício de Leituras, São Boaventura comunica a sua compreensão desse mistério “Para que do lado de Cristo morto na cruz se formasse a Igreja e se cumprisse a palavra da Escritura que diz: Hão-de olhar para Aquele que trespassaram, a divina providência permitiu que um dos soldados Lhe abrisse com a lança o lado sacrossanto e dele fizesse brotar sangue e água. Este é o preço da nossa salvação, saído daquela divina fonte, isto é, do íntimo do seu Coração, para dar aos sacramentos da Igreja o poder de conferir a vida da graça e se tornar para aqueles que vivem em Cristo uma fonte de água viva que jorra para a vida eterna”.
Para a Oração Colecta, o Missal propõe duas opções. A primeira refere-se ao Coração de Cristo como fonte de toda a graça e benção, recorda e alegra-se com os benefícios do seu amor por nós, e conclui pedindo: “Dá-nos desta fonte divina uma inesgotável abundância de graça”. A segunda Oração, que é a que se usava antes, vê neste Coração, ferido pelos nossos pecados, o receptáculo dos infinitos tesouros do amor de Cristo.
O Prefácio reúne as várias ideias: o Calvário, o peito trespassado e o Coração aberto, e celebra o amor de Cristo, que não cessa de arder por amor à humanidade.
Elevado sobre a cruz, fez brotar da ferida do seu lado, com a água e o sangue, os sacramentos da Igreja: para que assim, aproximando-se do Coração do Salvador, todos possam beber com alegria das fonte da salvação.
Encontramos aqui de novo o Mistério Pascal. Uma vez mais se recorda a proclamação da Páscoa: “Tirareis água com alegria, das fontes de salvação”.

O Amor mútuo

A obrigação de nos amarmos uns aos outros, é a conclusão do mistério que celebramos. São João afirma claramente (1 Jo 4,11-22): “Caríssimos, se Deus nos amou assim, também nós devemos amar-nos uns aos outros. A Deus nunca ninguém O viu: se nos amarmos uns aos ouros, Deus permanece em nós e o seu amor chegou à perfeição em nós ”. Esta passagem é da primeira leitura do Ano A. A leitura evangélica deste mesmo dia, é o capítulo décimo primeiro de Mateus (Mt 11 25-30), e convida-nos a olhar a Cristo e a aprender do seu exemplo: “Aprendei de Mim que sou manso e humilde de coração, e encontrareis alívio para o vosso espírito…”. O amor cristão pode ter várias formas, mas quanto mais se aproxime de Cristo, mais irá adquirindo o selo da mansidão: “Bem-aventurados os mansos”.
Hoje sublinhámos com razão, a dimensão horizontal da religião. A justiça social é reconhecida como um elemento essencial do cristianismo. O amor não compatível com a indiferença, perante a manifesta injustiça social. Mas as actividades politicas e sociais, devem ser animadas pelo amor cristão.
Cristo deve viver no crente pela fé e o amor. Devemos ter a mentalidade de Cristo e deixar-nos mover pelo Espírito. “Plantados e construídos sobre o amor”, é o princípio no qual se deve basear a acção social cristã.
Tudo isso está de harmonia com a devoção ao Coração de Jesus, mas convém que hoje ponhamos um acento especial nestas coisas. Temo-lo explícito nas leituras da Bíblia, e apenas é necessário explica-lo e expô-lo na meditação.
Expressa-se nas orações colecta da Missa e numa das intercessões das preces de Laudes, dirigida expressamente a Cristo: “Jesus Cristo, fonte de vida e santidade, - fazei-nos santos e irrepreensíveis na caridade”.
A comunhão sacramental não é apenas o participar no Corpo e no Sangue de Cristo. Implica, para além disso, participação na vida dos seus membros, com um compromisso de amor e de serviço. Esta é a ideia que expressa a oração pós-comunhão: “Este sacramento do Teu amor, Senhor nosso Deus, acenda em nós o fogo da caridade, que nos mova a unirmo-nos mais a Cristo e a reconhecê-Lo presente nos irmãos”.
O latim usa a palavra attrahere, no sentido de sermos atraídos para o Coração aberto do Salvador, e inspira-se nas próprias palavras do Senhor: “E Eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a Mim”(Jo 12,32).
Ser atraídos para Jesus, para o Seu Coração, não significa ser afastados dos nossos irmãos. É sim para os encontrar no Coração de Cristo, para os amar “nas entranhas de Cristo Jesus”.

Magistério Papal recente

Desde que o Papa Pio XII publicou a sua Encíclica Haurietis aquas, vários dos seus sucessores trataram do culto ao Sagrado Coração de Jesus. O Papa Paulo VI, na sua carta Apostólica Las innumerables riquezas de Cristo (6 de Fevereiro de 1965), recomendava esta devoção como um meio excelente de honrar o próprio Jesus, e fazia notar a relação íntima entre esta devoção e o Mistério Eucarístico: “Desejamos especialmente que o Coração de Jesus seja honrado por uma participação mais intensa no Sacramento do Altar, uma vez que o maior dos seus dons é a Eucaristia”.
Paulo VI contava esta devoção entre as fórmulas populares de piedade que o Concílio do Vaticano II queria promover, porque estava para além disso, em harmonia com a Liturgia, porque precisamente no Coração de Jesus, tem a Liturgia a sua origem e a sua vida. A partir desse Coração, o sacrifício de expiação elevou-se até ao Pai Eterno.
João Paulo II, na sua primeira Encíclica, Redemptor hominis (4 de Março de 1979), que trata do Mistério da Redenção, tem a seguinte expressão: “A Redenção do mundo - este tremendo mistério de amor, no qual a criação se renova - tem na sua raiz mais profunda a plenitude da justiça no coração humano, o coração do Filho Primogénito, para que possa haver justiça no coração de muitos seres humanos, predestinados desde a eternidade no Filho Primogénito a serem filhos de Deus e chamados à graça e ao amor”.
Numa audiência geral, em 20 de Junho do mesmo ano, o Santo Padre falou abundantemente da devoção ao Sagrado Coração, cuja festa estava prestes a ocorrer: “Hoje, antecipando a festa desse dia, juntamente convosco, desejo voltar os olhos dos nossos corações, para o mistério desse Coração. Prendeu-me desde a minha juventude. Em cada ano volto a este mistério ao ritmo litúrgico da Igreja”.
É característica do Papa João Paulo, falar do Coração de Cristo associando-O com todo o coração humano. É um caso de “cor ad cor loquitur”, “o coração fala ao coração”. O coração é o símbolo que fala do homem interior e espiritual. O coração humano iluminado pela graça, é chamado a compreender as “inumeráveis riquezas” do Coração de Cristo.
São João, o Apóstolo, São Paulo e os místicos de todos os tempos, descobriram por si mesmos e partilharam com outros essas mesmas riquezas espirituais. Mas Jesus atrai a todos para o Seu Coração, revela-Se a eles, fala-lhes ao coração, vive nos seus corações pela fé e quer ser rei deles, não pelo exercício da força, mas com a suavidade e amor.
Por fim, numa nota litúrgica, o Papa explica esta festa e resume o Ciclo Litúrgico: “Assim, no final deste ciclo fundamental da Igreja, a festa do Sagrado Coração de Jesus apresenta-se discretamente. Todo o ciclo está definitivamente nele: no Coração do Homem Deus. D’Ele irradia também a cada ano, a vida inteira da Igreja”.

Encuentra/Vincent Ryan (Páscoa, Festas do Senhor. Paulinas, Madrid – 1987, pag 118-132)
Tradução livre de Diácono Maximino A. Martins



quinta-feira, 12 de junho de 2014

Testemunhas de Jeová - como acolhê-las (1)


A campainha de casa soou. Falei no intercomunicador.
- Faz favor?
- Podia abrir a porta? Tenho um convite para lhe entregar para ir ao Estádio do Restelo.
- Convite para quê?
- Sabe... é um congresso internacional...
- Congresso sobre quê? De que assunto se trata, diga.
- Bem, nós somos Testemunhas e Jeová e queríamos convidá-lo...
- Pois, eu sou cristão católico apostólico romano.
- Mas isto não é para o convencer é um congresso...
- Eu aceito o convite e o senhor vai comigo à missa. Concorda?
- Veja o congresso...
- Já disse. Vai comigo à missa?
- Nós não fugimos de nada.
- Óptimo, então vai comigo à missa?
- Você sabe que nós não vamos, mas a questão é...
- Afinal, sempre foge. Passe uma boa tarde.
- E podia abrir-me a porta para eu deixar os convites nas caixas de correio?
- Boa tarde.

Diálogo real.

Orlando de Carvalho



sexta-feira, 6 de junho de 2014

12 Violações por dia só num estado da União Indiana


As mãos do pai de Murti e tio de Pushpa mostram as fotos das meninas violadas, queimadas e enforcadas





Existe um estado na União Indiana chamado Madhya Pradesh onde acontecem 12 violações de mulheres por dia. A capital de Madhya Pradesh é a tristemente conhecida cidade de Bhopal, onde em 3 de Dezembro de 1984 meio milhão de pessoas foram expostos ao maior desastre químico até hoje em todo o mundo. O número de milhares de mortos nunca chegou a ser conhecido. O estado é altamente povoado com 60 milhões de habitantes. É um dos lugares do mundo onde as mulheres estão mais desprotegidas: 12 violações por dia! É obra!
No dia 2 de Junho deste ano de 2014, o ministro do Interior de Madhya Pradesh, um indivíduo que dá pelo nome de Babulal Gaur celebrou os 84 anos. Provavelmente já devia ter descoberto que fazia melhor serviço à humanidade reformando-se, mas vai insistindo. Como outros políticos, em Portugal, que não entendem que já estão em adiantado estado de demência ou ninguém os avisa e vão fazendo tristes figuras que todos sabemos.  
No dia seguinte, a 3 de Junho, Babulal Gaur esteve numa acção de propaganda nas ruas, distribuindo caramelos aos condutores de veículos de duas rodas que usavam capacete de protecção. Gesto que certamente seria muito apreciado e fecundo como prémio às crianças bem comportadas num jardim infantil.


 O ministro que devia estar calado, Babulal Gaur


Na terça-feira 27 de Maio, Murti e Pushpa, de 14 e 15 anos, primas e residentes na aldeia de Katra, no estado indiano de Madhya Pradesh desapareceram ao final do dia. Os familiares procuraram-nas, sem sucesso,
Ao final do dia, as meninas foram raptadas pelo já chamado bando de Badaun (o distrito onde se localiza a aldeia de Katra), os irmãos Avadesh, Urvesh e Pappu Yadav, e durante a noite foram vítimas de violação em grupo. Depois de se servirem, aqueles selvagens despejaram ácido pela boca abaixo das meninas, conforme resultado da autópsia, e enforcaram-nas. De manhã, finalmente, elas foram encontradas suspensas numa mangueira, uma árvore de grande porte abundante na região.



  Mangoeiro onde as meninas foram enforcadas


No sistema social indiano, a família das meninas é da casta dos intocáveis, a mais baixa escala social a que não são reconhecidos quaisquer direitos, pelo menos nalguns estados. Embora a população se mostrasse indignada com o sucedido, as individualidades políticas e policiais não pareceram muito afectadas com o sucedido.
Na União Indiana, a civilização parece não ter ordem de entrada. Uns têm direitos, outros não. Uns são gente, outros são animais. Os bandos de assassinos selvagens magoam meninas e mulheres e ameaçam-nas e às famílias com represálias de morte se ousarem denunciar os crimes de que são vítimas.
Voltamos ao já citado ministro que superintende a polícia, o indivíduo Babulal Gaur. Questionado pela imprensa acerca deste crime fez questão de notar que era preciso distinguir duas espécies de violação: as que eram erradas e as que eram certas. Nalguns casos, diz aquela pessoa (?), as violações são merecidas. Ele tem a ousadia de afirmar que nenhum homem premedita uma violação, logo, deduz a inteligência das inteligências, se ele sente um impulso para violar a que não pode resistir, isso não pode ser considerado crime. Contesta sim a pena de morte para os violadores porque acha que não se deve destruir a possibilidade de uma vida. Poderia parecer que ele falava da possibilidade da vida das meninas violadas, mas o velho ministro que, pelas suas palavras, deve saber bem o que é violar, refere-se à vida dos violadores que forem violados. As mulheres não têm valor, para ele. E infelizmente para outros indianos bem colocados na estrutura social do país.
O pai de uma das meninas e tio da outra tentou apresentar queixa do crime na polícia. Começaram por lhe perguntar a que casta social pertencia. Ao descobrirem que era dos mais pobres, riram-se-lhe na cara e negaram-se a receber a queixa.



Populares e jornalistas juntos à residência


Os populares que se manifestaram foram dispersos por ordem do chefe da polícia Akhilesh Yadav, que se opõe fortemente à recente alteração legislativa que possibilita a condenação à morte dos violadores. Ele alega que se a comunicação social se calasse, as autoridades locais e os violadores não seriam tão incomodados por fazerem o que também se faz em todo o restante país.

Orlando de Carvalho




terça-feira, 3 de junho de 2014

É mais conveniente ter um cão e dois gatos que um filho


Na segunda-feira 2 de Junho de 2014 o papa Francisco celebrou com 15 casais que festejavam o seu aniversário de casamento, na capela de Santa Marta.

O papa referiu os três amores de Jesus.
O primeiro amor de Jesus vai para o Pai, na unidade do Espírito Santo.
O segundo grande amor de Jesus vai para a sua mãe. O seu último alento foi para ela: Cuida dela, João!
O terceiro amor de Jesus vai para a Igreja. Na sua infidelidade, Jesus ama-a profundamente.
Depois o papa citou São Paulo para relacionar o amor de Jesus à Igreja como modelo do amor entre os esposos, dirigindo-se, através daqueles quinze casais a todos os casais.
O amor entre casais como entre Jesus e a Igreja tem três características: verdadeiro, perseverante (nunca se cansa de amar) e frutífero, fecundo.
Antes de mais, o amor é fiel. Jesus é o fiel. Fidelidade é o amor de Jesus. Essa fidelidade é como uma luz sobre o casamento: a fidelidade no amor, sempre. Há maus momentos, tantas vezes vós lutais. Mas no final voltais, pede-se perdão e o amor matrimonial prossegue, como o amor de Jesus com a Igreja.
A vida matrimonial é, pois, um amor perseverante, porque precisa dessa determinação para ir em frente. É preciso perseverança nos momentos bons e nos difíceis, quando há problemas com os filhos, problemas económicos. Mas o amor persevera sempre, em frente, tentando resolver as coisas para salvar a família. Homens e mulheres que se levantam todas as manhãs para continuar a família.
A fertilidade é a terceira parte do amor de Jesus para com a sua noiva, a Igreja. Este amor fecundo revela-se com as novas crianças baptizados. E a Igreja cresce com essa fertilidade nupcial do amor de Jesus. Mas, às vezes, o Senhor não envia crianças; outras vezes, a criança adoece, tantos problemas. É nestes momentos que é preciso olhar para Jesus, porque estas provas fazem crescer o amor, se se olha para Jesus e na fecundidade do seu amor pela Igreja.
Jesus não gosta desses casamentos que não querem filhos, que querem permanecer sem fertilidade. Eles são o produto da cultura do bem-estar, segundo a qual "é melhor não ter filhos, porque se pode ir viajar pelo mundo sempre em férias, pode-se ter uma casa no campo e nunca ter preocupações. É uma cultura que sugere que "é mais conveniente ter um cão e dois gatos ", assim " o amor vai para o pequeno cão e os dois gatos. " Mas ao fazê-lo, no final deste casamento vem a velhice na solidão, com a amargura da solidão ruim: não é fértil, não faz o que Jesus faz com a sua Igreja.
O Papa rezou pelos casais que pedem ao Senhor que o seu casamento seja lindo, com cruzes, mas bonito, como a de Jesus com os fiéis da Igreja, perseverante e fecunda.

Tradução e adaptação livre de Orlando e Carvalho