terça-feira, 28 de abril de 2015

Síntese das reflexões feitas nas comunidades do Patriarcado em preparação para o Sínodo 2016. Parte I


Foi publicada uma síntese das reflexões feitas nas comunidades do Patriarcado sobre a primeira parte da exortação Evagelii Gaudium, realizadas entre Outubro e Dezembro de 2014. Transcrevemos*.



O primeiro capítulo da Exortação Apostólica Evangelii Gaudium foi lido e meditado por vários milhares de pessoas do Patriarcado de Lisboa no âmbito da caminhada sinodal encetada em Outubro de 2014, rumo ao Sínodo Diocesano a realizar no ano de 2016. A presente síntese do relatório final do primeiro trimestre pretende apresentar as linhas gerais que foram reflectidas.



1. Constatações

As constatações dividem-se entre externas e internas, reflectindo, as primeiras, o olhar dos cristãos sobre o mundo e, as segundas, a auto-analise dos fiéis cristãos em relação à própria Igreja, em vários níveis.

Do ponto de vista das constatações externas, a reflexão identificou muitos aspectos que marcam o mundo dos nossos dias, mundo esse em que todos os cristãos estão envolvidos e de que fazem parte. Por um lado, identificaram-se aqueles aspectos que marcam as pessoas e a sociedade de uma forma mais negativa: o materialismo, o relativismo, a existência de preconceitos, o indiferentismo, o consumismo, o individualismo (e correlativamente a solidão), a ausência da questão sobre Deus, desconfiança generalizada quer em relação aos indivíduos quer em relação às instituições (incluídas nestas o Estado, a própria Igreja, mas também as instituições de base como o casamento e a família). Por outro lado, também se identificaram sinais positivos que surgem no mundo: procura da fraternidade, da interajuda, várias formas de voluntariado, sede de vida espiritual. Neste sentido, teve bastante relevo a leitura que os cristãos fizeram sobre os problemas sociais e culturais que se vivem no Patriarcado de Lisboa, nomeadamente as questões postas por uma sociedade plural, constituída por pessoas de diversas proveniências, e ainda as questões sociais mais prementes, relacionadas sobretudo com as pessoas mais fragilizadas, nomeadamente os idosos. Uma palavra central nesta reflexão foi a «desumanização», sensibilidade que percorre todos os sectores da sociedade.

Quando os cristãos dirigiram o olhar para si mesmos e para a Igreja como todo, assinalaram uma falta de fé generalizada e um desajuste muito grande entre aquilo que a Igreja ensina e a vida concreta dos baptizados. Outros aspectos assinalados visaram uma auto-reflexão ao estilo de exame de consciência, assinalando-se a facilidade para a crítica gratuita, a falta de disponibilidade para a correcção fraterna, a facilidade em fazerem-se juízos de valor sobre as pessoas e, ainda, uma forte tendência legalista e moralista. Referiu-se ainda a falta de conhecimento da Bíblia.

Identificaram-se também algumas dificuldades de forma objectiva em relação à capacidade de partir em missão: a falta de conhecimento sobre o modo de anunciar, a acomodação, o medo de ir só, o descrédito dos resultados, a falta de consciência da necessidade da evangelização e a indiferença. Como pano de fundo, muitas respostas identificaram a mundanidade, tal como descrita pelo Papa, como um dos aspectos marcantes da vida eclesial. Neste sentido, referiu-se ainda a dificuldade em transpor a mensagem cristã para o dia-a-dia e para os problemas de hoje.

Por outro lado, constatou-se ainda que a Paróquia continua a ser o grande campo de trabalho pastoral, com todos os desafios e apelos que isso traz, reconhecendo-se ainda a grande vitalidade dos movimentos para a Igreja de hoje.

Uma grande parte das respostas visava a necessidade de articulação entre estas duas realidades (paróquia e movimentos). O âmbito diocesano também foi visado na reflexão dos cristãos de Lisboa, sendo referido como essencial mas como realidade ainda a construir e a desenvolver.



2. Desafios

Os desafios foram analisados a partir das três funções principais da Igreja: a função sacerdotal; a função profética e a função real.

Do ponto de vista da função sacerdotal, onde se incluíram dimensões como a liturgia, a espiritualidade e os sacramentos, as respostas visaram vários aspectos, sendo de destacar a necessidade de uma formação espiritual mais profunda dos leigos, o que só se conseguirá com uma formação espiritual grande dos padres; a importância da confissão e a necessidade de ser disponibilizado mais tempo para este sacramento; a necessidade de se aplicarem de forma igual os critérios para a administração dos sacramentos, acabando com as disparidades de paróquia para paróquia.

O principal desafio colocado na função profética da Igreja é a sua renovação, rumo a um anúncio mais completo e abrangente de toda a vida das pessoas, e assim menos polarizado em poucos aspectos que por sua vez são absolutizados. Neste sentido, indicou-se também uma necessidade de renovação na comunicação eclesial, quer ao nível dos conteúdos, quer do vocabulário, assim como a sua adequação aos destinatários. Neste campo tem muita importância a utilização das novas tecnologias, que devem ser aproveitadas como veículos de evangelização.

Este aspecto foi assinalado a respeito, muito especialmente, da catequese. Por outro lado, as respostas dadas na caminhada sinodal indicaram a necessidade de acabar com homilias mal preparadas, quer por serem improvisadas, ou de fraca qualidade espiritual, mas também demasiado longas e imperceptíveis. Identificou-se ainda uma grande necessidade de um «primeiro anúncio» em muitas paróquias, ao qual devem estar articuladas estruturas que sirvam de garantia e sustento para a vivência daqueles que escutaram o apelo do Senhor. Por fim, identificou-se também a grande necessidade de fazer das igrejas espaços de acolhimento de todas as pessoas.

No âmbito da função real da Igreja, assinalou-se, de forma geral, a necessidade de uma maior proximidade dos padres às comunidades, realizando pontes entre os vários grupos da paróquia ou mesmo a nível inter-paroquial. Identificaram-se também muitos desafios na pastoral familiar (nomeadamente na preparação para o matrimónio e na pastoral de pessoas em situação irregular), na pastoral social (especialmente sobre o modo de a tornar lugar de evangelização), na pastoral da saúde (sobretudo sobre o modo de integrar os doentes na vida eclesial),na administração paroquial (de modo particular a necessidade de integração dos leigos), entre muitas outras dimensões da vida eclesial.

* Corrigimos gralhas sintácticas e eliminámos as adaptações que o texto tem originalmente ao malfadado Acordo Ortográfico. A Igreja é normalmente um depósito cultural.

Orlando de Carvalho

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Migração de morte

A migração foi sempre uma atitude de aventura e de risco. Abraão foi 'premiado' por Deus por ter tido a coragem de deixar a sua terra e partir em busca de uma terra onde 'talvez' corresse o leite e o mel, onde 'talvez' conseguisse chegar depois de uma viagem que ele não sabia se ia ser fácil ou difícil, breve ou demorada.
Antes de Abraão, a História da Humanidade fez-se de migrações dos primeiros humanos que percorreram todo o planeta, cruzando continentes, montanhas, pântanos, mares e oceanos, em busca de algum lugar onde corresse 'leite e mel', ou tranquilidade e bom clima.
Os hebreus foram perseguidos pelos egípcios, na sua fuga à escravidão, mesmo através do deserto, até serem salvos pelos acontecimentos do Mar Vermelho. O mundo que hoje conhecemos é fruto de migrações, em especial as mais recentes. Estamos a pensar no continente americano, na Oceania, em Israel e na Europa da União Europeia edificada sobre o trabalho migrante de portugueses, espanhóis, italianos, depois turcos e mais recentemente europeus de leste e toda a espécie de muçulmanos das mais variadas origens.
Os emigrantes foram sempre descriminados. Livros antigos da Sagrada Escritura ordenam aos fiéis que tratem com compaixão os estrangeiros, referindo-se aos emigrantes, com a mesma compaixão que ordena que sejam tratados os órfãos e as viúvas. A insistência nesta recomendação faz-nos pensar que, os judeus, mal recordados de como tinham sido tratados pelos egípcios, não respeitariam a dignidade humana dos estrangeiros que chegavam ao seu país.
A Europa acolheu a emigração, de modo especial na segunda metade do século XX. Os valores cristãos e a ênfase que lhes deu a Revolução Francesa e a revolução cultural que a acompanhou, valores humanos que foram todos bebidos na Bíblia Sagrada, levou à criação de um respeito pelos estrangeiros que chegavam, à concessão de direitos laborais e sociais idênticos aos dos europeus de origem, ao respeito pelas culturas de origem.
Mas sabemos que muitos filhos daquela Revolução Francesa tentaram apoderar-se dos tais valores bíblicos como se fossem invenção sua e mesmo antítese dos ensinamentos evangélicos. Usaram então uma inversão perversa dos factos e quiseram dar mais valor às culturas que chegavam que à cultura europeia. Surgem deste modo governos e autarquias, por toda a Europa, a colocar o Islão acima da Igreja. Estupidez masoquista!
A vida sem dignidade imposta nos países africanos e do Médio Oriente, onde o povo é escravizado, sempre que necessário com a invocação da autoridade religiosa e a corrupção dos dirigentes políticos e governantes provoca um dos maiores movimentos migratórios da História. O Paraíso, o Éden, o El Dorado, são a Europa. A Europa não tem lotação para tanto imigrante e o recurso é a entrada ilegal e forçada. Barcos atravessam o Mediterrâneo com passageiros em número muitas vezes superior ao recomendado e permitido pela segurança. Milhares de estrangeiros chegam à Europa, muitos milhares morrem afogados no Mediterrâneo. O Papa Francisco ergue a sua voz em defesa destes filhos de Deus que se sujeitam à morte e que morrem na procura de uma dignidade de vida que não lhes é permitida na Europa.
A BBC relata como a maldade acompanha alguns destes migrantes que se esquecem da sua condição e atacam e matam os companheiros de viagem que são cristãos, afogando-os no mar. Pedem encarecidamente aos cristãos europeus que os recebam, mas pelo caminho vão matando os cristãos que percorrem com eles um caminho em busca de uma salvação.
Confiamos sempre na misericórdia de Deus para com os pecadores, mas temos também de esperar justiça exemplar das autoridades europeias, porque estes casos não podem continuar.

Orlando de Carvalho







sábado, 18 de abril de 2015

Papa Francisco recebe a ACISJF




O Papa Francisco recebeu este sábado, 18 de Abril, em audiência, na Sala Clementina, 70 membros da Associação Católica Internacional de Serviços para a Juventude Feminina (ACISJF).

Sempre a sorrir, cansado, mas simpático e gentil, no final de uma manhã plena de trabalho, sua Santidade apertou a mão a cada um dos membros da associação presentes, de 18 países de todo o mundo, incluindo 8 portuguesas, não permitindo que ninguém lhe beijasse o anel, nem se ajoelhasse.

O Papa Francisco agradeceu o empenho generoso da Associação ao serviço das jovens, que vivem em situações de dificuldade e sofrimento. Salientando a interpelação à criatividade para novas soluções de ajuda material e espiritual que o aumento do número destas jovens provoca.

O Papa referiu a importância do acolhimento permanente a estas jovens, no mundo de hoje, onde situações como o fenómeno migratório podem atentar contra a sua dignidade.



Disse:

Trata-se de um aspecto do serviço ao próximo, que testemunha a Fé autêntica no Filho de Deus.

As jovens que acompanhais têm principalmente necessidade de atenção e escuta. Só deste modo as podeis ajudar a crescer na confiança, a encontrar pontos de referência e a progredir na maturidade humana e espiritual, alimentada pelos valores evangélicos. Podeis ser, para elas, testemunhas credíveis, para que façam a experiência da alegria de amar a Deus Pai e da plena felicidade!

Segui o exemplo das jovens que apoiais, que apesar das suas dificuldades, dão testemunho daquelas virtudes essenciais, como a fraternidade e a solidariedade. Elas também nos lembram quão frágeis e dependentes somos de Deus e dos outros.

Que o olhar misericordioso de Deus possa ajudar-nos a aceitar as nossas pobrezas, para progredirmos, com confiança, e sermos verdadeiros discípulos e missionários de Cristo, consolando, iluminando, aliviando, ouvindo, libertando e acompanhando os que mais precisam da nossa ajuda. Continuai a anunciar a todos a alegria do Evangelho, levando em consideração as diferenças culturais, as tradições religiosas, as proveniências e as riquezas das jovens e suas famílias necessitadas. Que a fraternidade seja o impulso da missão ao serviço dos pequenos, os predilectos de Jesus. 

Orlando de Carvalho



sábado, 4 de abril de 2015

É Páscoa outra vez




Domingo de Ramos, celebramos a entrada festiva e triunfal de Jesus em Jerusalém. Todos queriam vê-lO, tocá-lO, gritar o seu ‘estou conTigo’, Amém, Aleluia, Hossana. Jesus conhecia os seus corações e distinguia os sinceros, os falsos que só estavam a ver onde paravam as modas e os que estavam ali porque todos os outros também iam.
Domingo de Ramos, muitos doentes entraram em hospitais, para a urgência ou para internamento. Para alguns foi também a sua entrada na ‘cidade’ para onde tinha sido projectado o seu encontro com a morte, o seu Calvário em Jerusalém. A caminhada final ao encontro do Criador.
Quinta-feira Santa, os católicos comemoram a Ceia onde Jesus definiu a primeira missa: serviço aos irmãos, bem explícito na lavagem dos pés, e na mais alta doação: comei o meu corpo e bebei o meu sangue. Assim aconteceu e continua a acontecer. Comemos o seu Corpo e bebemos o seu Sangue, embora nem sempre isso seja por nós digerido, mas apenas expelido: não recolhemos no Corpo e no Sangue do Senhor a Força do Espírito que nos impeliria ao serviço dos irmãos, dos mais pobres, dos mais frágeis, dos que habitam connosco a mesma casa.
Sexta-feira Santa, comemoramos a morte de Jesus. Numa solidão aterradoramente triste, despojado de roupas, de amigos (Ah! Os de Domingo de Ramos, onde estão?), Cristo sofre tão sozinho que já nem sabe se o Pai o abandonou ou virá finalmente buscá-lO. No mesmo dia, percorremos o caminho sofredor de Jesus, em vergonha e humilhação pública, derrotado por todos os seus opositores religiosos e, principalmente, políticos (muitos preferem esquecer que Jesus foi essencialmente um homem político, porque a religião já existia), vergado sob o peso da cruz, dos insultos, das cuspidelas e agressões gratuitas de tantos cobardes judeus (hoje são os cristãos que cumprem esse ritual de cobardia), os que não conseguiram vencê-lo no contraditório de tantas discussões, apressam-se a dar largas ao seu espírito vingativo: desce da cruz, ó farrabotas, enganador, mentiroso: não tens poder algum, arremessam em vã acusação.
E nós cristãos, participamos nas celebrações com dignidade ritual ou com espírito dócil? Alguns percorremos as ruas em via-sacra e escutamos insultos. Não gostamos, mas isso também faz parte, os que Ele ouviu foram muito maiores.
Penso em Jesus, sozinho naquele momento e pela minha mente passam tantos filhos de Deus que me parecem Jesus, que tenho dificuldade em distinguir entre eles e Jesus. O Pedro está sozinho em casa, a mulher abandonou-o e o filho também não está lá. Como este, também o José, a Matilde, a Rosa… Pais e mães de família, separados das famílias que passam estes dias de celebração, religiosa para uns e de férias para outros, sozinhos. Penso em tantos doentes hospitalizados, em sofrimento, a morrer, sem família ou amigos que os visitem ou sem família ou amigos, de todo. Tantos doentes e tantos idosos, internados em lares, com as famílias bem longe a passarem uns dias de descanso, e eles nos lares a percorrerem mais uma estação da sua via-sacra. Penso em tantos migrantes, longe das famílias, dos lares, das tradições e cultura deixados para trás, lá longe. Penso em tantos condutores estúpidos que morrem e matam, os que vão com eles no carro e estranhos do outro carro envolvido à força no acidente; de que serve comentar depois que foi um acidente estúpido, se a estupidez foi de quem não foi prudente?
Penso que se Jesus quisesse voltar e viver tudo outra vez… o Pai não permitiria. Um e Outro, por amor, estariam dispostos a essa kenosis, a essa humilhação de descida do Céu à terra, à dor da cruz e à de ver o Filho morrer. Mas questionam-se: para quê? Que mais haverá para mostrar que os convença. Ainda assim, Cristo encarna todos os dias diante de nós, e mostramos então que somos muito piores que os judeus e os romanos. Pois que foi Óscar Romero, senão imagem de Cristo ao encontro dos que o mataram? Primeiro tentaram comprar os guardas, a imprensa, para que não fosse divulgada a verdade do assassinato. Tentaram mesmo calar o papa. Depois, adoptaram a máxima ‘se não podes lutar contra eles, junta-te a eles’. Hoje, ‘sabemos’, tentam convencer-nos, que ‘todos’ os grupos políticos, mesmo que alguns disfarçados de religiosos, de esquerda e de direita, sempre apoiaram D. Óscar e sempre dele receberam apoio. E são aqueles que o mataram, que não têm vergonha na cara e tentam agora tirar proveito do seu assassinato, fazendo-se de vítimas e amigos do mártir. Não há outra dificuldade em citar mil casos como o de Óscar Romero, através do qual podemos ver o anúncio do Reino e a paixão de Cristo, que a do tempo e espaço para escrever todas essas histórias dos nossos dias presentes.
Escrevo em manhã de Sábado Santo. A celebração da Ressurreição, Vigília e Domingo de Páscoa, vai ser já daqui a poucas horas. O Céu rejubilaria se todos quiséssemos ressuscitar, como o filho pródigo. Rejubilará com os que percorrerem essa via, não obstante os filhos mais bem instalados na vida e as suas críticas, enaltecendo o pecado de cada filho pródigo e fazendo vista grossa às suas virtudes, à sua conversão: como pode um pecador ocupar o lugar que o Pai lhe reservou desde o início dos tempos, interrogam-se. Excluamo-lo, deliberam.
Será mais uma Páscoa, como tantas outras. Cada um de nós terá a oportunidade de ressuscitar com Cristo ou permanecer nos abismos infernais. Eu e tu. Depende cada um de si.

Orlando de Carvalho


quarta-feira, 1 de abril de 2015

VIA-SACRA PRESIDIDA PELO PAPA FRANCISCO, COLISEU, 3 DE ABRIL DE 2015

DEPARTAMENTO PARA AS CELEBRAÇÕES LITÚRGICAS DO SUMO PONTÍFICE


SEXTA-FEIRA SANTA, PAIXÃO DO SENHOR
VIA-SACRA PRESIDIDA PELO PAPA FRANCISCO

COLISEU, ROMA, 3 DE ABRIL DE 2015


A CRUZ, ÁPICE LUMINOSO DO AMOR DE DEUS QUE NOS GUARDA
Chamados, também nós, a sermos guardiões por amor

MEDITAÇÕES preparadas por Sua Excelência Reverendíssima D. Renato Corti Bispo Emérito de Novara (Itália)

INTRODUÇÃO
Adoramus te, Christe
Schola cantorum:

Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi,
quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum.
Domine, miserere nobis.
Santo Padre:
Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
R/. Amen.
Estávamos no dia 19 de Março de 2013. O Papa Francisco tinha sido eleito poucos dias antes. Fez a homilia sobre São José, dizendo que fora o «guardião» de Maria e de Jesus[1] e que o seu estilo era feito de discrição, humildade, silêncio, presença constante e fidelidade total.
Na Via-Sacra que estamos prestes a começar, haverá uma referência constante ao dom de sermos guardados pelo amor de Deus, nomeadamente por Jesus crucificado, e ao dever de, por nossa vez, sermos por amor guardiões da criação inteira, de todas as pessoas, especialmente da mais pobre, de nós mesmos e das nossas famílias, para fazer brilhar a estrela da esperança.
Queremos viver esta Via-Sacra numa profunda intimidade com Jesus. Vendo com atenção aquilo que está escrito nos Evangelhos, individuar-se-ão discretamente alguns sentimentos e pensamentos que poderiam ocupar a mente e o coração de Jesus naquelas horas de provação.
Ao mesmo tempo, deixar-nos-emos interpelar por algumas situações de vida que caracterizam – positiva ou negativamente – os nossos dias. Expressaremos assim uma ressonância, que traduz o nosso desejo de realizar algum passo de imitação de Nosso Senhor Jesus Cristo na sua paixão.
Oração
Ó Pai, que quisestes salvar os homens com a morte do vosso Filho na Cruz, concedei-nos que, tendo conhecido na terra o seu mistério de amor, sejamos suas testemunhas, por palavras e obras, junto de todos aqueles que nos fazeis encontrar na vida diária. Por Cristo Senhor Nosso. Amen.



I ESTAÇÃO
Jesus é condenado à morte Intimidade, traição, condenação
V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi. R/. Quia per sanctam Crucem tuam redemisti mundum.
Do Evangelho segundo São Lucas
«Isto é o meu corpo, que vai ser entregue por vós (…). Este cálice é a nova Aliança no meu sangue, que vai ser derramado por vós».[2]
Do Evangelho segundo São Marcos
«Tomando novamente a palavra, Pilatos disse-lhes: “Então que quereis que faça daquele a quem chamais rei dos judeus?” Eles gritaram novamente: “Crucifica-o!” (…) Pilatos, desejando agradar à multidão, soltou-lhes Barrabás; e, depois de mandar flagelar Jesus, entregou-o para ser crucificado».[3]
SENTIMENTOS E PENSAMENTOS DE JESUS
Acabei de celebrar a Páscoa com os meus discípulos. Tinha-o desejado ardentemente:[4] a última Páscoa, antes da paixão, antes de voltar para Ti! Inesperadamente, porém, senti-me turbado. A um discípulo meu, o diabo meteu-lhe no coração a ideia de me trair.[5] No jardim do Getsémani, veio ter comigo. Com um gesto que significa amor, saudou-me dizendo: «Salve, Mestre!». E deu-me um beijo.[6] Que amargura, naquele momento!
Durante a ceia, implorei-Te, Pai, que guardasses os meus discípulos no teu nome, para serem um só, como Nós o somos.[7]
A NOSSA RESSONÂNCIA
Nós somos, ó Jesus, ainda mais frágeis na fé do que os primeiros discípulos. Corremos o risco de Vos trair, quando o vosso amor deveria levar-nos a crescer no amor por Vós.
Precisamos de oração, vigilância, sinceridade e verdade. Assim a fé crescerá. E será robusta e jubilosa.
OREMOS
Guardados pela Eucaristia
«O vosso corpo e o vosso sangue, Senhor Jesus, nos guardem para a vida eterna».[8] Que este milagre se realize para os sacerdotes que presidem à Eucaristia e para todos nós, fiéis, que nos aproximamos do altar para receber-Vos a Vós, pão vivo descido do céu.
Todos:

Pater noster, qui es in cælis:
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo, et in terra.
Panem nostrum cotidianum da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo. Amen.

Stabat Mater dolorosa

iuxta crucem lacrimosa,
dum pendebat Filius.


II ESTAÇÃO

Jesus abraça a cruz
«Contado entre os pecadores»
V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi. R/. Quia per sanctam Crucem tuam redemisti mundum.
Do Evangelho segundo São Marcos
«Depois de o terem escarnecido, tiraram-lhe o manto de púrpura e revestiram-no das suas vestes. Levaram-no, então, para o crucificarem».[9]
SENTIMENTOS E PENSAMENTOS DE JESUS
Rodeiam-me os soldados do governador. Para eles, já não sou uma pessoa, mas uma coisa. À minha custa querem divertir-se, fazer pouco de mim. Por isso me vestem de rei. Está pronta também uma coroa, mas de espinhos. Batem-me na cabeça com uma cana. Cospem sobre mim. Levam-me para fora.[10]
Ecoam em mim palavras dramáticas do profeta Isaías sobre o Servo do Senhor. Dizem que não tem aparência de beleza; é desprezado; é o homem das dores; é como um cordeiro levado ao matadouro; é eliminado da terra dos vivos; é ferido de morte. Aquele Servo sou Eu, para desvendar a grandeza do amor de Deus pelo homem.[11]
A NOSSA RESSONÂNCIA
Assim Vós, ó Jesus, fostes «contado entre os pecadores».[12] Na primeira geração cristã, precisamente porque falavam publicamente de Vós, Pedro e João, Paulo e Silas atravessaram o limiar da prisão. [13] E assim aconteceu muitas vezes ao longo dos séculos.
Mesmo nestes dias, há homens e mulheres que são presos, condenados ou até mesmo trucidados, só porque são crentes ou comprometidos em prol da justiça e da paz. Não se envergonham da vossa cruz. São, para nós, admiráveis exemplos a imitar.

OREMOS COM AS PALAVRAS DE UM MÁRTIR
SHAHBAZ BHATTI
Na manhã do dia 2 de Março de 2011, o paquistanês Shahbaz Bhatti, Ministro das Minorias, foi morto por um grupo de homens armados. No seu testamento espiritual, tinha escrito:
«
Lembro-me de uma sexta-feira de Páscoa, quando tinha apenas treze anos: ouvi um sermão sobre o sacrifício de Jesus pela nossa redenção e pela salvação do mundo. E pensei que devia corresponder àquele seu amor dando amor aos nossos irmãos e irmãs, colocando-me ao serviço dos cristãos, especialmente dos pobres, dos necessitados e dos perseguidos que vivem neste país islâmico.
Quero que a minha vida, o meu carácter, as minhas acções falem por mim e digam que estou a seguir Jesus Cristo. Este desejo é tão forte em mim, que me consideraria privilegiado se Jesus quisesse aceitar o sacrifício da minha vida».
À luz deste testemunho, oremos: Senhor Jesus, sustentai intimamente os perseguidos. Difunda-se pelo mundo o direito fundamental à liberdade religiosa. Nós Vos damos graças por todos aqueles que oferecem, como «anjos», sinais maravilhosos do vosso Reino que vem.
Todos:

Pater noster, qui es in cælis:
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo, et in terra.
Panem nostrum cotidianum da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo. Amen.

Cuius animam gementem,

contristatam et dolentem
pertransivit gladius.


III ESTAÇÃO

Jesus cai sob o peso da cruz
«Eis o Cordeiro de Deus»
V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi. R/. Quia per sanctam Crucem tuam redemisti mundum.
Do Livro do profeta Isaías
«Foi ferido por causa dos nossos crimes, esmagado por causa das nossas iniquidades. O castigo que nos salva caiu sobre ele, fomos curados pelas suas chagas».[14]
SENTIMENTOS E PENSAMENTOS DE JESUS
Sinto-me vacilar enquanto dou os primeiros passos para o Calvário. Já perdi muito sangue. Tenho dificuldade em aguentar o peso do madeiro que devo levar. E, assim, caio por terra.
Alguém me levanta. Em volta de mim, vejo tantas pessoas. Certamente haverá também quem me ame. Outros são apenas curiosos. Penso em João Batista que, no início da minha vida pública, disse: «Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!»[15] Revela-se agora a verdade daquelas palavras.
A NOSSA RESSONÂNCIA
Ó Jesus, este é o dia em que de modo algum devemos parecer-nos com o fariseu que se louva a si mesmo, mas com o publicano que não ousa sequer levantar a cabeça.[16] Por isso, Vos pedimos confiadamente a Vós, Cordeiro de Deus, o perdão dos nossos pecados por pensamentos, palavras, actos e omissões.
Meditando no peso da vossa cruz, não nos envergonharemos de traçar sobre nós mesmos o sinal da cruz: «É uma ajuda eficaz: gratuita para os pobres e, para quem é fraco, não requer qualquer esforço. Trata-se, efectivamente, de uma graça de Deus».[17]
OREMOS
O vosso Filho partilhou a nossa vida humana
Nós Vos glorificamos, Pai Santo, porque repetidas vezes, pelos profetas, nos formastes na esperança da salvação. Nós Vos glorificamos, porque de tal modo amastes o mundo que nos enviastes o vosso Filho Unigénito. Para cumprir o vosso plano salvador, Ele viveu a nossa condição humana em tudo igual a nós, excepto no pecado; anunciou a salvação aos pobres, a libertação aos oprimidos, a alegria aos que sofrem.[18]
Obrigado, ó Pai!
Todos:

Pater noster, qui es in cælis:
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo, et in terra.
Panem nostrum cotidianum da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo. Amen.

O quam tristis et afflicta

fuit illa benedicta
Mater Unigeniti!


IV ESTAÇÃO
O encontro com a Mãe Uma espada trespassa a alma
V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi. R/. Quia per sanctam Crucem tuam redemisti mundum.
Do Evangelho segundo São Lucas
«Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua mãe: “Este menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição; uma espada trespassará a tua alma. Assim hão-de revelar-se os pensamentos de muitos corações. (…) Sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração».[19]
SENTIMENTOS E PENSAMENTOS DE JESUS
No meio da multidão, está a minha mãe. O meu coração bate agitado. Não consigo vê-la bem. O sangue escorreu-me também para o rosto.
Quando tinha apenas quarenta dias, fui levado ao Templo, de acordo com a Lei de Moisés, para a oferta. Ao meu pai e à minha mãe, falou um profeta. Chamava-se Simeão. Tomou-me nos seus braços. Disse que eu haveria de ser um «sinal de contradição» e que, à minha mãe, «uma espada haveria de trespassar-lhe a alma». Palavras que, neste momento, se fazem ardente realidade para ela e para mim. Hoje tem plena realização a oferta daquele dia.[20]
A NOSSA RESSONÂNCIA
«Ó Filho meu, de linhagem divina, sois arrastado pelas mãos destes génios do mal e suportais-lho; viestes pôr-vos em cadeias e, voluntariamente, deixais-vos levar por eles, Vós que sois o libertador das cadeias do género humano acorrentado! Oh como me sinto destruída! Dizei-me, dizei-me uma palavra, Palavra de Deus Pai, não passeis, em silêncio, diante da vossa serva feita vossa mãe».[21]
Ó Jesus, o drama que enfrentais, juntamente com a vossa mãe, por uma ruela de Jerusalém, faz-nos pensar em tantos dramas familiares presentes no mundo. Há-os para todos: mães, pais, filhos, avós e avôs. Julgar é fácil; mais importante, porém, é pormo-nos no lugar dos outros e ajudá-los até onde nos for possível. Vamos procurar fazê-lo.
OREMOS
«Fazei o que Ele vos disser»
Maria Santíssima, mãe de Jesus, esposa de José, nós vos pedimos que acompanheis o Sínodo dos Bispos dedicado à família. Intercedei pelo Papa, pelos Bispos e por todos aqueles que estão directamente envolvidos nele. Sejam dóceis ao Espírito Santo e cheguem a um válido discernimento. Sempre tenham presente o salmo que diz: «O amor e a verdade vão encontrar-se».[22] Em Caná, ó Maria, sugeristes aos serventes: «Fazei o que Ele vos disser».[23] Sustentai os esposos e os pais cristãos, chamados a dar testemunho da beleza duma família inspirada e guiada pelas directrizes de Jesus.
Todos:

Pater noster, qui es in cælis:
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo, et in terra.
Panem nostrum cotidianum da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo. Amen.

Quæ mærebat et dolebat

pia Mater, dum videbat
Nati pœnas incliti.


V ESTAÇÃO

O Cireneu ajuda Jesus a levar a cruz
Ao voltar do campo
V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi. R/. Quia per sanctam Crucem tuam redemisti mundum.
Do Evangelho segundo São Lucas
«Quando o iam conduzindo, lançaram mão de um certo Simão de Cirene, que voltava do campo, e carregaram-no com a cruz, para a levar atrás de Jesus».[24]
SENTIMENTOS E PENSAMENTOS DE JESUS
Ouço gritos em redor de mim. À força agarram um camponês que passava por ali, talvez por acaso. Sem grandes explicações, constringem-no a carregar o meu peso. Sinto-me aliviado. Mandam-lhe que se ponha atrás de mim. Iremos juntos até ao lugar do suplício.
Mais do que uma vez, ao pregar o Reino de Deus, eu dissera: «Quem não tomar a sua cruz para me seguir, não pode ser meu discípulo».[25] Mas agora este homem carrega inclusive a minha. Talvez não saiba sequer quem sou, mas entretanto ajuda-me e segue-me.
A NOSSA RESSONÂNCIA EM LOUVOR DE SIMÃO
«Bem-aventurado sejas também tu, Simão, que levaste durante a vida a cruz atrás do nosso Rei. Sentem-se orgulhosos aqueles que levam as insígnias dos reis, e contudo desvanecer-se-ão os reis com as suas insígnias. Bem-aventuradas as tuas mãos que se ergueram para levar em procissão a cruz de Jesus, que nos deu a vida».[26]
Também para alguns de nós, o encontro convosco, ó Senhor, talvez se tenha dado de forma totalmente imprevista. Mas depois cresceu.
Consideramos ser uma grande graça vossa o facto de não faltarem, entre nós, cireneus. Eles carregam a cruz dos outros. Fazem-no com perseverança. É o amor que os move. A sua presença torna-se fonte de esperança. Põem em prática o convite de São Paulo: «Carregai as cargas uns dos outros».[27] E deste modo guardam os irmãos.
OREMOS
Quem não precisa de um cireneu?
Senhor Jesus, dissestes que «a felicidade está mais em dar do que em receber».[28] Tornai-nos disponíveis, também a nós, para cumprirmos a tarefa do «cireneu». Quem observar o nosso estilo de vida, sinta-se encorajado vendo-nos cultivar o que é belo, justo, verdadeiro, essencial. Quem for frágil ver-nos-á humildes, porque, em muitos aspectos, também nós somos frágeis. Quem receber de nós sinais de gratuidade, perceberá que nós mesmos temos mil motivos para dizer «obrigado». Mesmo quem não puder correr, poderá estar tranquilo porque nos é querido; encontrar-nos-á prontos a abrandar: não queremos deixá-lo para trás.
Todos:

Pater noster, qui es in cælis:
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo, et in terra.
Panem nostrum cotidianum da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo. Amen.

Quis est homo qui non fleret,

Matrem Christi si videret
in tanto supplicio?


VI ESTAÇÃO
A Verónica limpa o rosto de Jesus Discípulas
V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi. R/. Quia per sanctam Crucem tuam redemisti mundum.
Do Evangelho segundo São Lucas
«Jesus ia de cidade em cidade, de aldeia em aldeia, proclamando e anunciando a Boa-Nova do Reino de Deus. Acompanhavam-no os Doze e algumas mulheres, que tinham sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demónios; Joana, mulher de Cuza, administrador de Herodes; Susana e muitas outras, que os serviam com os seus bens».[29]
SENTIMENTOS E PENSAMENTOS DE JESUS
No meio da multidão, há muitas mulheres. A gentileza impele alguma delas a aproximar-se para me limpar o rosto. Este gesto faz-me aflorar ao pensamento diversos encontros. Um deu-se apenas há uma semana. Ceei, por amizade, em Betânia, hóspede de Marta, Maria e Lázaro. Maria ungiu-me os pés com perfume de nardo puro. Disse-lhe, para surpresa dela, que o conservasse para a minha sepultura.[30]
Vejo-me também sentado junto do poço de Sicar. Estava cansado e com sede. Chega então uma mulher samaritana com um cântaro. Peço-lhe água. Aludo a uma água que jorra para a vida eterna. Parecia que estivesse à espera deste dom para abrir o seu coração. Queria contar-me tudo sobre si mesma. Vi-a, maravilhado, escavar dentro da sua consciência. Regressou à praça da cidade, falando de mim e dizendo: «Não será ele o Messias?»[31]
A NOSSA RESSONÂNCIA
Ó Jesus, nesta noite, é significativa entre nós a presença feminina. Nos Evangelhos, as mulheres ocupam um lugar relevante. Assistiram-Vos, a Vós e aos apóstolos, com os seus bens. Algumas delas estiveram presentes durante a vossa paixão. E serão as primeiras a levar o anúncio da vossa ressurreição.
O génio feminino desafia-nos a viver a fé permeada de carinho para convosco.[32] Assim no-lo ensinam todos os Santos. Queremos percorrer a sua estrada.
OREMOS
O dom da maternidade espiritual
Senhor Jesus, o anúncio da fé no mundo e o caminho das comunidades cristãs são imensamente apoiados pelas mulheres. Conservai-as como testemunhas daquela felicidade que floresce do encontro convosco e constitui o segredo profundo da sua vida. Guardai-as como sinal luminoso de maternidade junto dos últimos que, no seu coração, se tornam os primeiros.
Todos:

Pater noster, qui es in cælis:
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo, et in terra.
Panem nostrum cotidianum da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo. Amen.

Quis non posset contristari,

Christi Matrem contemplari
dolentem cum Filio?


VII ESTAÇÃO

Jesus cai pela segunda vez
«Não te afastes de mim»[33]
V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi. R/. Quia per sanctam Crucem tuam redemisti mundum.
Do Evangelho segundo São Mateus
«Jesus chegou a um lugar chamado Getsémani (...) para orar. E, levando consigo Pedro e os dois discípulos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se. Disse-lhes então: “A minha alma está numa tristeza de morte; ficai aqui e vigiai comigo”. E orava dizendo: “Meu Pai, se é possível, afaste-se de mim este cálice. No entanto, não seja como Eu quero, mas como Tu queres».[34]
Do Evangelho segundo São Lucas
«Então, vindo do Céu, apareceu-lhe um anjo que o confortava. Cheio de angústia, pôs-se a orar mais instantemente, e o suor tornou-se-lhe como grossas gotas de sangue, que caíam na terra».[35]
SENTIMENTOS E PENSAMENTOS DE JESUS
A fadiga não é apenas física. Há algo mais profundo que devo ter em conta. Ontem à noite, estive longamente a rezar ao Pai, prostrado no chão. O meu suor era como gotas de sangue. Estava já na agonia. Estou compartilhando a experiência suprema e difícil de todo o ser humano às portas da morte. Obrigado, meu Pai, por me teres mandado naquele momento um anjo do céu para me confortar!
A NOSSA RESSONÂNCIA
Jesus, quanta tristeza no abismo de muitas almas feridas pela solidão, o abandono, a indiferença, a doença, a morte de um ente querido!
Incalculável é, depois, o sofrimento daqueles que estão no meio de acontecimentos cruéis, de palavras de ódio e falsidade; ou que encontram corações de pedra que provocam lágrimas e levam ao desespero.
O coração do homem – o coração de todos nós – espera por algo muito diverso: uma guarda feita de amor. Assim no-lo ensinais Vós, ó Jesus, a nós e a todos os homens de boa vontade: Amai-vos uns aos outros assim como Eu vos amei.[36]
OREMOS
Coração meu, guarda e consola!
Abre-te, coração meu. Sê amplo como o coração de Deus. Abre-te para levares esperança. Abre-te para tomares ao teu cuidado. Abre-te para ouvir. Abre-te para pores bálsamo nas feridas. Abre-te para dares luz a quem está nas trevas. Guarda e consola hoje, amanhã e sempre.
Todos:

Pater noster, qui es in cælis:
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo, et in terra.
Panem nostrum cotidianum da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo. Amen.

Pro peccatis suæ gentis

vidit Iesum in tormentis,
et flagellis subditum.


VIII ESTAÇÃO

Jesus encontra as mulheres de Jerusalém
«Vós sois o sal da terra. (…) Vós sois a luz do mundo»[37]
V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi. R/. Quia per sanctam Crucem tuam redemisti mundum.
Do Evangelho segundo São Lucas
«Seguiam Jesus uma grande multidão de povo e umas mulheres que batiam no peito e se lamentavam por Ele. Jesus voltou-se para elas e disse-lhes: “Filhas de Jerusalém, não choreis por mim, chorai antes por vós mesmas e pelos vossos filhos”».[38]
SENTIMENTOS E PENSAMENTOS DE JESUS
Ainda poucos dias passaram da minha entrada em Jerusalém. Uma pequena multidão de discípulos fez-me festa. Até me aclamou dizendo: «Bendito seja o rei que vem em nome do Senhor».[39] Na sua simplicidade, aquele momento foi solene. E contudo os fariseus deram mostras de desagrado. A festa não me impediu as lágrimas provocadas pela vista da cidade.[40] Agora, enquanto sigo fadigosamente para o Gólgota, ressoam vozes de mulheres que se lamentam por mim e batem no peito.
A NOSSA RESSONÂNCIA
Também hoje, Jesus, vendo as nossas cidades, podereis talvez ter motivos para chorar. É que também nós podemos ser cegos diante de Vós, sem entender o caminho de paz por Vós indicado.[41]
Mas agora sentimos como vossa chamada aquela que expressastes no Sermão da Montanha: «Felizes os puros de coração, porque verão a Deus. Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus». E aquilo que dissestes, depois, aos vossos discípulos: «Vós sois o sal da terra. (...) Vós sois a luz do mundo. (...) Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, de modo que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus».[42]
OREMOS
Na luz da Jerusalém do Céu
Senhor Deus, chamastes-nos para a Jerusalém do Céu, que é a tenda de Deus com os homens. Prometestes que lá serão enxugadas todas as lágrimas dos nossos olhos. Não haverá mais morte, nem luto, nem pranto, nem dor. Vós sereis o nosso Deus e nós o vosso povo.[43] Guardai em nós a esperança de que, depois do tempo fatigoso da sementeira em lágrimas, chega o tempo jubiloso da ceifa.[44]
Todos:

Pater noster, qui es in cælis:
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo, et in terra.
Panem nostrum cotidianum da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo. Amen.

Eia, Mater, fons amoris,

me sentire vim doloris
fac, ut tecum lugeam.


IX ESTAÇÃO
Jesus cai pela terceira vez A «viagem» de Jesus
V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi. R/. Quia per sanctam Crucem tuam redemisti mundum.
Do Evangelho segundo São João
«Saí do Pai e vim ao mundo; agora deixo o mundo e vou para o Pai».[45]
SENTIMENTOS E PENSAMENTOS DE JESUS
A minha viagem terrena está prestes a terminar. Quando nasci, a minha mãe recostou-me numa manjedoura.[46] Passei quase toda a minha vida em Nazaré. Mergulhei na história do povo eleito.
Como enviado itinerante do Pai, anunciei a largura do seu amor, que não esquece ninguém; o comprimento do seu amor, fiel através de todas as gerações; a altura do seu amor, esperança que vence a própria morte; e a profundidade do seu amor,[47] que me enviou, não para os justos, mas para os pecadores.[48]
Muitos me ouviram e seguiram, tornando-se meus discípulos; outros não me compreenderam. Também alguns me combateram e, por fim, condenaram-me. Mas neste momento, mais do que nunca, sou chamado a revelar o amor de Deus pelo homem.[49]
A NOSSA RESSONÂNCIA
Jesus, perante o vosso amor e o do Pai, perguntamo-nos sobre o risco de nos deixar fascinar pelo mundo, para quem a vossa paixão e morte não passam de «loucura e escândalo», quando na verdade são «poder e sabedoria de Deus»?[50] Porventura não seremos cristãos mornos, ao passo que o vosso amor é um mistério de fogo?
Porventura damo-nos conta de que, antes de Deus vir até junto de nós, não sabíamos quem pudesse ser Deus? Quando chegastes Vós, Filho Unigénito, Deus, que nos tinha plasmado à sua imagem, permitiu-nos levantar o olhar para Ele e prometeu-nos o Reino dos céus? Como não havemos então de amar Aquele que nos amou primeiro?[51]
OREMOS
«Abbá, ó Pai»
Senhor Deus, ousamos dizer-Vos: «Pai nosso». Pensar em nós mesmos como filhos é um dom maravilhoso do qual Vos somos eternamente gratos. Sabemos, ó Pai, que não somos apenas um grão de pó no universo. Destes-nos uma grande dignidade, chamastes-nos à liberdade. Libertai-nos de toda a forma de escravidão. Não nos deixeis vagar longe de Vós. Guardai, ó Pai, cada um de nós. Guardai cada homem que habita na terra.
Todos:

Pater noster, qui es in cælis:
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo, et in terra.
Panem nostrum cotidianum da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo. Amen.

Fac ut ardeat cor meum

in amando Christum Deum,
ut sibi complaceam.


X ESTAÇÃO
Jesus despojado das vestes A túnica
V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi. R/. Quia per sanctam Crucem tuam redemisti mundum.
Do livro dos Salmos
«Repartem entre si as minhas vestes e sorteiam a minha túnica».[52]
SENTIMENTOS E PENSAMENTOS DE JESUS
Mantenho-me em silêncio. Sinto-me humilhado por um gesto aparentemente banal. Já fui despojado horas atrás. Penso na minha Mãe, aqui presente. A minha humilhação é também a sua. Também desta forma é trespassada a sua alma. A Ela devo a túnica que me foi arrancada e que é um símbolo do seu amor por mim.[53]
A NOSSA RESSONÂNCIA
A vossa túnica, Senhor, leva-nos a meditar sobre um momento de graça e, simultaneamente, sobre factos que violam a dignidade do homem.
A graça é a do Baptismo. À criança que acaba de se tornar cristã, diz-se: «És nova criatura e estás revestida de Cristo. Esta veste branca seja para ti símbolo da dignidade cristã: ajudada pela palavra e o exemplo dos teus pais e padrinhos, conserva-a imaculada até à vida eterna».[54] Aqui está a verdade mais profunda da existência humana.
Ao mesmo tempo o amor com que guardais todas as criaturas faz-nos pensar em situações terríveis: o tráfico de seres humanos, a condição das crianças-soldado, o trabalho que se torna escravidão, as crianças e os adolescentes despojados de si mesmos, feridos na sua intimidade, barbaramente profanados.
Vós impelis-nos a pedir humildemente perdão a quantos sofrem estes ultrajes e a rezar para que, finalmente, desperte a consciência de quem obscureceu o céu na vida das pessoas. Diante de Vós, ó Jesus, renovamos o propósito de «vencer o mal com o bem».[55]
OREMOS
Os dois caminhos
«Feliz o homem que não segue o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem toma parte na reunião dos libertinos; antes põe o seu enlevo na lei do Senhor e nela medita dia e noite. É como a árvore plantada à beira da água corrente: dá fruto na estação própria e a sua folhagem não murcha; em tudo o que faz, é bem sucedido».[56]
Todos:

Pater noster, qui es in cælis:
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo, et in terra.
Panem nostrum cotidianum da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo. Amen.

Sancta Mater, istud agas,

Crucifixi fige plagas
cordi meo valide.


XI ESTAÇÃO
Jesus é pregado na cruz A suprema cátedra do amor de Deus
V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi. R/. Quia per sanctam Crucem tuam redemisti mundum.
Do Evangelho segundo São João
«Então entregou-o para ser crucificado (…). Pilatos redigiu um letreiro e mandou pô-lo sobre a cruz. Dizia: “Jesus Nazareno, Rei dos Judeus”».[57]
SENTIMENTOS E PENSAMENTOS DE JESUS
Estão a pregar-me mãos e pés. Os braços são estendidos. Os pregos penetram dolorosamente na minha carne. Estou bloqueado no corpo, mas livre no coração, tal como livremente vim ao encontro da minha paixão.[58] Livre, porque sou habitado pelo amor, um amor que quereria incluir a todos.
Observo quem está a crucificar-me. Penso naqueles que lho ordenaram: «Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem».[59] Ao meu lado, estão outros dois condenados à crucifixão. Um deles pede-me que o recorde quando estiver no meu reino. Sim – digo-lhe –, «hoje estarás comigo no Paraíso».[60]
A NOSSA RESSONÂNCIA
Vemo-Vos, Jesus, pregado na cruz. E, na nossa consciência, surgem impelentes estas interrogações: Quando será abolida a pena de morte, praticada ainda hoje em numerosos Estados? Quando será cancelada toda a forma de tortura e a supressão violenta de pessoas inocentes? O vosso Evangelho é a mais firme defesa do homem, de cada homem.
OREMOS
«Tende piedade de nós!»

Senhor Jesus, abraçastes a cruz para nos ensinar a dar a nossa vida por amor; na hora da morte, prestastes ouvidos ao ladrão arrependido.
Salvador inocente, fostes contado entre os iníquos e sujeitastes-Vos ao juízo dos pecadores.[61]
Tende piedade de nós!

Todos:

Pater noster, qui es in cælis:
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo, et in terra.
Panem nostrum cotidianum da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo. Amen.

Tui Nati vulnerati,

tam dignati pro me pati
pœnas mecum divide.


XII ESTAÇÃO

Jesus morre na cruz
«Ó Cristo, temos necessidade de Vós» (Beato Paulo VI)
V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi. R/. Quia per sanctam Crucem tuam redemisti mundum.
AS PALAVRAS DE JESUS NA CRUZ
Jesus clamou com voz forte: «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?»[62] Depois, dirigindo-se à mãe: «Mulher, eis o teu filho!» E ao discípulo João: «Eis a tua mãe!»[63] Disse ainda: «Tenho sede»;[64] mais tarde: «Tudo está consumado»;[65] e por fim: «Pai, nas tuas mãos, entrego o meu espírito».[66]
A NOSSA RESSONÂNCIA
Na cruz, Vós rezastes, Jesus. E precisamente assim vivestes o auge da vossa vocação e missão.
Naquele momento, falastes à vossa mãe e ao discípulo João. Através deles, faláveis também a nós. Fomos confiados à vossa Mãe. Pedistes-nos para a acolhermos na nossa vida, a fim de sermos guardados por Ela tal como o fostes Vós.
Intensa impressão nos fez o facto de, ao longo duma agonia que durou horas, terdes clamado com voz forte a Deus usando as palavras do Salmo 21, que exprimem os sofrimentos mas também as esperanças do justo.
O evangelista Lucas recorda que, pouco antes de morrer, dissestes: «Pai, nas tuas mãos, entrego o meu espírito».[67] A resposta do Pai virá: será a vossa ressurreição.
ORAÇÃO
«Omnia nobis est Christus» (Santo Ambrósio)
- «Temos necessidade de Vós, ó Cristo, para conhecer o nosso ser e o nosso destino.
- Temos necessidade de Vós, para encontrar as verdadeiras razões da fraternidade entre os homens, os alicerces da justiça, os tesouros da caridade, o bem supremo da paz.
- Temos necessidade de Vós, ó grande Sofredor das nossas dores, para conhecer o sentido do sofrimento.
- Temos necessidade de Vós, ó Vencedor da morte, para nos libertar do desespero e da incoerência.
- Temos necessidade de Vós, ó Cristo, para aprender o amor verdadeiro e percorrer, com a alegria e a força da vossa caridade, o nosso caminho cansativo, até ao encontro final convosco, amado, esperado, bendito pelos séculos dos séculos».[68]

Todos:

Pater noster, qui es in cælis:
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo, et in terra.
Panem nostrum cotidianum da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo. Amen.

Vidit suum dulcem Natum

moriendo desolatum,
dum emisit spiritum.


XIII ESTAÇÃO
Jesus é descido da cruz A estrada régia da Igreja
V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi. R/. Quia per sanctam Crucem tuam redemisti mundum.
Do Evangelho segundo São Mateus
«O centurião e os que com ele guardavam Jesus, (…) disseram: “Este era verdadeiramente o Filho de Deus!” Estavam ali, a observar de longe, muitas mulheres (…). Entre elas, estavam Maria de Magdala, Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu».[69]
Jesus passou deste mundo para o Pai. A sua paixão dá-nos a graça de descobrir, no seio da história, a paixão de Deus pelo homem. Os santos corresponderam a ela, tornando-se discípulos e apóstolos. A isto somos chamados também nós.
A NOSSA RESSONÂNCIA
- «
Em Vós, Jesus – Palavra feita carne –, somos chamados a ser a Igreja da misericórdia.
-
Em Vós – pobre por opção –, a Igreja é chamada a ser pobre e amiga dos pobres.
- <p>Contemplando o vosso rosto, o nosso não poderá ser diferente do vosso.</p>- A nossa fraqueza será força e vitória, se tornar presente a humildade e a mansidão do nosso Deus».[70]
OREMOS
«Estendei a toda a família humana, ó Pai, o reino de justiça e de paz que preparastes por meio do vosso Filho Unigénito, nosso rei e salvador. Assim será concedida aos homens a verdadeira e dulcíssima paz; os pobres encontrarão justiça; serão confortados os aflitos e todas as tribos da terra serão abençoadas n’Ele, nosso Senhor e nosso Deus, que vive e reina convosco, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos».[71]

Todos:

Pater noster, qui es in cælis:
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo, et in terra.
Panem nostrum cotidianum da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo. Amen.

Fac me tecum pie flere,

Crucifixo condolere,
donec ego vixero.


XIV ESTAÇÃO
Jesus é depositado no sepulcro Guardados para sempre
V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi. R/. Quia per sanctam Crucem tuam redemisti mundum.
Do Evangelho segundo São João
«Depois disto, José de Arimateia (…) pediu a Pilatos que lhe deixasse levar o corpo de Jesus. E Pilatos permitiu-lho. Veio, pois, e retirou o corpo. Nicodemos (…) apareceu também trazendo uma mistura de perto de cem libras de mirra e aloés. Tomaram então o corpo de Jesus e envolveram-no em panos de linho com os perfumes, segundo o costume dos judeus».[72]
SENTIMENTOS DE DOIS AMIGOS DE JESUS
O corpo dos condenados à crucifixão era considerado indigno até de sepultura. Mas, ao contrário, dois homens influentes, José de Arimateia e Nicodemos, guardaram solicitamente o corpo de Jesus.
«Que sorte, para mim e para vós – diz-nos José de Arimateia –, termo-nos tornado discípulos de Jesus![73] Eu, antes, era-o às escondidas. Mas agora encontro em mim uma grande coragem. Até enfrentei Pilatos para ter o corpo de Jesus.[74] Mais do que a coragem, foram decisivos o carinho e a alegria. Estou contente por ter disponibilizado um sepulcro novo, escavado na rocha.[75] Digo-vos: Amai o nosso Salvador!»
Nicodemos poderia acrescentar: «Teve lugar em horas nocturnas o meu primeiro encontro com Jesus. Por Ele, fui convidado a renascer do Alto.[76] Mas só pouco a pouco fui compreendendo aquelas suas palavras. Agora estou aqui para honrar os seus membros. De bom grado adquiri uma mistura de mirra e aloés.[77] Mas a verdade é que Ele fez muito mais por mim: perfumou a minha vida!»
MARIA FALA AO NOSSO CORAÇÃO
«João manteve-se ao meu lado. Ao pé da cruz, a minha fé foi posta a dura prova. Como fiz em Belém e, depois, em Nazaré, também agora em silêncio medito.[78] Confio em Deus. Não se apagou a minha esperança de mãe. Confiai vós também! Para vós todos, peço a graça duma fé forte. Para aqueles que atravessam dias sombrios, a consolação».
OREMOS
Avé Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amen.
Todos:

Pater noster, qui es in cælis:
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo, et in terra.
Panem nostrum cotidianum da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo. Amen.

Quando corpus morietur,

fac ut animæ donetur
Paradisi gloria.
Amen.