quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

A indissolubilidade do casamento

Em que estou a pensar?
Que tem 4 cardeais, centenas de bispos, milhares de padres, milhões de leigos contra esta exortação apostólica do Papa Francisco.
Por que?
Porque todos se arvoram em defensores da legítima fé católica, como se só eles tivessem recebido a doutrina diretamente da boca de Jesus Cristo e só eles tivessem acesso à interpretação de suas parábolas.
Pelo que me foi dado observar os principais pontos da discórdia são:
1- A indissolubilidade do casamento
2- A comunhão dos unidos em segundas núpcias.
Ora, pelo que li na exortação, o Papa Francisco não é contrário à indissolubilidade do casamento, nem à preferência do estado de graça dos que comungam.
Há oito noites que estou tentando descobrir a vida de todos os que se opõem ferozmente ao que o Papa Francisco exorta nesse pequeno livrinho. Captei uma mensagem do Alto: escreve no chão o pecado de cada um....
Claro que aqui não o vou fazer, mas muitos já os viram estampados na mídia...e ninguém se iluda, porque o que se faz no escuro brilhará sobre os telhados.
Bem, voltemos há análise dos fatos:
- 1) A indissolubilidade do casamento.
Nenhum seguidor de Cristo desconhece as palavras do Criador de que o homem por Ele criado " deixará pai e mãe e se juntará à sua mulher e os dois formarão uma só carne". Cristo concorda, pois, de contrário, diria "ouvistes o que foi dito aos antigos? Eu porem vos digo..."
Para quem raciocina, é o homem com capacidade para contratar, e não a criança, o demente, ou o velho decrépito, também proibidos pelas leis civis; é o homem maduro, que deixará livremente a casa dos pais, que escolherá livremente a sua mulher e livremente se juntará a ela com a finalidade de formar uma só carne, crescerem e multiplicarem-se; é o homem maduro que respeita que a mulher por ele escolhida também deixe livremente a casa de seus pais, concorde juntar-se a ele e com ele conviva para sempre. Esta lei primária aplica-se a todos os homens e mulheres no mundo inteiro...não ditada exclusimente para católicos!
Da teoria à prática existe um abismo, como do céu ao inferno.
O Papa defende, sim, a indissolubilidade do casamento.... mas sabe muito bem, e para isso nem precisava ser tão inteligente, que o "anátema" do Concilio de Trento não assustou os católicos, que continuaram a se casar sem ser "faciem ecclesiae", nem se sentiram casados os que a igreja desconhecia.
Em sã consciência, quem não reconhece quatro ou cinco casamentos, em cada cem, que de modo algum podem ser válidos? ....meros ajustes sociais ou reserva de heranças.
Observem a história dos casamentos através dos séculos. São verdadeiras crianças casando (algumas já nasceram casadas) pelo consentimento e até escolha dos pais; são jovens ameaçados ou induzidos ao casamento sem um mínimo de formação ou vontade de casar; são jovens grávidas que acabam casando só para poder batizar os filhos ( tem padre que não batiza a criança se os pais não forem casados). ......E pensarmos que esses "acéfalos" estão fazendo um contrato para o resto da vida?
Deus pode concordar com uma palhaçada destas e abençoar o casamento? Pelo menos Deus merece mais respeito!
Ganhe vergonha na cara quem diz que esses casamentos são indissolúveis.
Quebrem a cabeça e fiquem com a cabeça partida até o fim da vida!
A maioria dos casamentos é indissolúvel... Ok! Mas há milhões que não são porque foram contraídos invalidamente.... e a igreja é a mais culpada por tudo isso que aconteceu...não preparou os pais desses jovens nem exigiu curso de preparação para o casamento.... e ...porque "malda" dos que vivem juntos fora do casamento, como se todos vivessem em pecado mortal, mesmo sendo dois velhinhos, ....a não ser os que optaram pela vida religiosa!
Como diz o povo: argueiro no olho dos outros é colírio nos meus.
Portanto, repetimos que o contrato de casamento não é para uma semana, mês ou ano...é para toda a vida. Então requer-se que ambos os contraentes sejam maduros, queiram casar-se um com o outro, não estejam impedidos, possam casar-se física e psiquicamente, e o façam através de uma forma legal de contrato matrimonial .
Conclusão, milhares e milhares de fiéis quebram as pernas na primeira tentativa de união... O Papa Francisco resolveu ir atrás dessas ovelhas feridas....os casamentos falidos .....e pedir aos Bispos que julguem os seus fiéis para que as distâncias e as custas processuais não sejam o principal obstáculo da justiça de Deus chegar aos que clamam aos céus por ela.
Qual a solução ?
Os Cardeais, os Bispos ...e alguns padres, sabem que um vinculo legal é diferente de um vínculo de consciência.
Se o casamento obedeceu a um processo de habilitação, foi aprovado e se realizou o ato jurídico, um vinculo foi gerado e permanece com todas as suas clausulas contratuais até prova em contrário.
Portanto, é necessário que se instaure um outro processo legal para avaliar a validade desse ato jurídico ou contrato de casamento. Esta competência é dos Tribunais Eclesiásticos. Estes é que, por sentença de um colegiado de juízes, declaram se o casamento foi válido, e, portanto, abençoado por Deus para toda a vida (isto é, indissolúvel), ou se foi inválido e, portanto, deva ser declarado inexistente ou nulo.
Se o Papa Francisco fosse contra a indissolubilidade do casamento, ele mesmo resolveria os casos dos casamentos falidos pessoalmente.
Acontece que, quando procurou os órgãos competentes, isto é, os Tribunais Diocesanos, poucos encontrou...e os que encontrou estavam sobrecarregados por seguir processos altamente burocráticos e caros, tudo para evitar que "o povo se escandalize e perca a noção da indissolubilidade do casamento realizado nas igreja católica. Há mérito nisso? Meias mentiras também são mentiras.
Ciente de que, antes de pensar na misericórdia de Deus, teria que defender a justiça de Deus, determinou o Papa Francisco que todas as dioceses criem o seu tribunal e o Bispo seja o juiz do seu povo, devido à proximidade e dever pastoral.
Alguma coisa de errado nisso?
(Quanto ao segundo tema, comentarei depois...mas já podem ir adiantando as consequências naturais que advirão quando os Bispos entenderem o primeiro ponto e tentarem resolvê-lo pessoalmente em vez de mandar tudo para o Tribunal da Rota Romana ....até os casamentos falidos na comunidade dos indios do Xingú!)

Cónego Abílio de Vasconcelos, juiz do Tribunal Eclesiástico do Rio de Janeiro

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