domingo, 11 de dezembro de 2016

Juan Diego Cuauhtlatoatzin

12 Dezembro, Festa litúrgica de Nossa Senhora de Guadalupe



Juan Diego Cuauhtlatoatzin nasceu em 1474 em Cuauhtitlán, no reino de Texcoco, actualmente México. Pertencia à tribo dos Chichimecas. O seu nome significa “Águia que fala”.
Em 1492, a expedição marítima comandada por Cristóvão Colombo chegou ao continente americano, iniciando-se um intercâmbio social e cultural, nem sempre tão pacífico como seria de esperar da parte daqueles que já conheciam a Boa Nova do Amor.
Em 1524, os primeiros missionários franciscanos chegaram ao México. Nesse mesmo ano de 1524, Cuauhtlatoatzin acreditou no Evangelho e pediu o Baptismo, para si e para a sua família. Cuauhtlatoatzin recebeu o nome cristão Juan Diego e a sua esposa o nome de Maria Lúcia. Para completar a sua vida sacramental, celebram o casamento cristão.
Juan Diego revelou-se um homem piedoso na sua vida sacramental, bem como na ânsia de conhecer cada vez melhor a revelação divina, escutando a palavra de Deus, na liturgia e na catequese. Maria Lúcia vem a falecer em 1529.
Juan Diego costumava caminhar cerca de vinte quilómetros para ir à missa e voltar. No dia 9 de Dezembro de 1531, Juan Diego caminhava a pé, como habitualmente a caminho da Eucaristia, quando em Tepeyac teve uma visão de Nossa Senhora. Tinha então cinquenta e sete anos. Ouviu:
– Juanito, Juan Dieguito!
Olhou para o céu e viu uma Senhora.
– Juanito, o mais pequeno dos meus filhos, onde vais?
– Senhora, vou a tua casa, na cidade.
– Quero que tu, o mais pequeno dos meus filhos, saiba que eu sou a sempre Virgem Maria, Mãe do verdadeiro Deus,
Aquele que cria todas as coisas, dá a vida e é Senhor do céu e da terra. Eu sou também a vossa Mãe, cheia de misericórdia, e por isso desejo vivamente que aqui me seja construído um templo, para que nele possa mostrar o meu amor, a minha compaixão, dar-te ajuda e defesa a ti, aos habitantes deste lugar, a todos os meus devotos que me invocam e têm confiança em mim. Neste lugar, quero ouvir os seus lamentos, vir ao encontro de todas as suas misérias, sofrimentos e dores. Agora, para realizar quanto deseja a minha benignidade, deves ir à casa do bispo do México para lhe dizer que sou Eu que te envio. Manifestar-lhe-ás o meu desejo de ter aqui um templo na esplanada. Presta atenção para lhe poderes dizer tudo quanto viste e ouviste. Prometo-te a minha protecção, far-te-ei feliz e dar-te-ei uma grande recompensa por este dever difícil que te confio. Agora que conheces a minha vontade, meu filho tão pequenino, vai e põe nisto toda a tua diligência.
Juan dirigiu-se de imediato ao bispo Juan de Zumarraga e contou-lhe tudo o que se havia passado. Todavia, o bispo não levou em consideração o pedido que lhe fora transmitido por Juan Diego.
O índio expõe então à Senhora o que se passara, mas novamente
Nossa Senhora lhe pede que insista junto do bispo.
Juan pede-lhe então que envie em seu lugar uma pessoa mais importante, que mereça crédito junto do bispo, pois parece-lhe que este pensou que era tudo invenção da sua cabeça. A Senhora ordena-lhe que volte junto do bispo, porque a sua escolha está feita, e será ele, o pequeno Juan Diego, o portador da sua mensagem. Desta segunda vez, o bispo falou com Juan Diego, interrogando-o para averiguar até que ponto ele era homem de fé, conhecedor da doutrina cristã, e em que medida se tratava de um embuste ou de uma acção divina. Pediu, no final, a Juan Diego que lhe apresentasse algum tipo de prova de que a visão era real.
E mandou alguns homens seguirem-no, mas eles perderam-no de vista.
Ao chegar a casa, Juan encontra o tio, com quem vivia desde o falecimento da esposa, atacado pela peste. O tio pede-lhe que vá procurar um sacerdote, antes de morrer. Esta situação coloca-o num dilema: Ou vai procurar um sacerdote imediatamente, para que ele chegue antes do tio morrer, ou vai procurar a Senhora, para lhe pedir o sinal para o bispo.
Segue pelo caminho, mas sem saber onde ir primeiro.
É o dia 12 de Dezembro, e ao passar no local do costume, Nossa Senhora apareceu pela terceira vez a Juan Diego. Quis saber aonde ia e Juan contou-lhe os seus problemas, dizendo-lhe que tinha de ir procurar um sacerdote e prometendo que depois voltaria.
– Não te preocupes com coisa tão pouca. O teu tio não vai morrer desta doença, por isso não precisa de nenhum sacerdote agora. Digo-te mais, o teu tio já está curado.
Juan Diego acreditou plenamente nas palavras de Nossa Senhora. A Virgem disse-lhe, em seguida, que subisse à colina de Tepeyac, e lá no cimo colhesse flores, voltando depois ali. Ora estava-se na fria e desolada estação do Inverno, numa região bastante seca. O índio cumpriu conforme a Senhora lhe pedira e encontrou uma grande extensão de rosas naturais de Castela, lindas e muito perfumadas, que nunca tinham existido naquele lugar que Juan bem conhecia.
Guardou-as dentro da sua “tilma” (capote) e levou-as a Nossa Senhora. A Senhora disse-lhe então que as fosse apresentar ao bispo. E ele assim fez. Chegado junto do bispo, abriu a tilma, deixando cair as flores. Ainda o bispo e todos os presentes estavam a tentar compreender como podiam existir aquelas flores naquela época do ano, quando repararam na imagem de Nossa Senhora de Guadalupe desenhada inexplicavelmente na tilma, com o aspecto de uma índia, com roupas índias e grávida. Nossa Senhora enviava ao bispo, não a prova que ele exigira, mas duas provas. O bispo é o primeiro a cair de joelhos perante a imagem e a pedir perdão a Nossa Senhora por não ter acreditado logo naquele que ela escolhera como mensageiro.
Foi então construída uma pequena Capela de Nossa Senhora de Guadalupe, em 1533, tendo como principal centro de atenção dos fiéis a tilma de Juan Diego. Esta capela sofreu sucessivas ampliações e melhoramentos até à actual Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe.
Depois da cumprida a vontade de Nossa Senhora, Juan Diego pediu, e obteve, autorização do bispo, para abandonar a sua casa e família e propriedades, instalando-se numa pequena casa junto à capela, passando a viver como eremita.
Ocupava-se da limpeza e manutenção da capela e do acolhimento aos peregrinos, que começavam a acorrer em grande número. O tempo restante, passava-o em oração e em contemplação. Também se entregou ao ensino da catequese.
Juan Diego partiu para o Pai, onde reencontrou Maria, em 1548.
Depois da sua partida para o Pai, os fiéis passaram a venerá-lo espontaneamente. “Deus te faça como Juan Diego” passou a ser uma expressão carinhosa e piedosa que os pais ou os sacerdotes dirigiam às crianças.
A 6 de Maio de 1990 Sua Santidade João Paulo II confirmou o culto de beato, que espontânea e tradicionalmente já era praticado, numa cerimónia, na cidade do México, depois de ter assinado o decreto «De vitae sanctitate et de cultu ab immemorabili tempore Servo Dei Ioanni Didaco
praestito», a 9 de Abril, do mesmo ano, em Roma. Por esta altura deu-se na Cidade do México um milagre, atribuído à intercessão de Juan Diego. Este milagre serviu de fundamento à canonização de Juan Diego a 31 de Julho de 2002, também na Cidade do México. Foi o primeiro índio americano canonizado.
Alguns grupos, mesmo dentro da Igreja, chegaram a pôr em causa a existência de Juan Diego, como se não passasse de uma invenção dos missionários.
Os católicos do México e de todo o continente americano acreditam fervorosamente em Nossa Senhora de Guadalupe e na visão de Juan Diego.
A tilma de Juan Diego foi estudada pela NASA, em 1979, com avançados meios tecnológicos. Concluíram que a imagem foi pintada de uma só vez, sem esboço ou correcções, nem rasto de pelos de pincéis. O químico Richard Kuhn, prémio Nobel, declarou que a coloração não é de origem mineral, nem vegetal, nem animal. Em 2001, os cientistas divulgaram que ampliando os olhos da pintura da Senhora de Guadalupe 2500 vezes, as pupilas reflectiam um grupo de índios e de franciscanos. Não existe explicação científica para a possibilidade de essa pintura ter sido feita. Também não existe explicação para o facto de a pintura e a própria tilma terem resistido durante todos estes séculos perfeitamente intactas. Uma bomba colocada por um revolucionário em 1921, destruiu degraus em mármore, janelas, etc., mas não interferiu em absoluto com a imagem na tilma. Actualmente esta está protegida por um vidro à prova de bala.
Da homilia da canonização de Juan Diego, na Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe, na Cidade do México, extraímos as seguintes palavras do Santo Padre:
«Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado!» (Mateus 11, 25-26).
Queridos Irmãos e Irmãs, estas palavras de Jesus no Evangelho deste dia constituem, para nós, um convite especial para louvar e dar graças a Deus pela dádiva do primeiro Santo indígena do Continente americano.
É com grande alegria que fiz a peregrinação até esta Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe, coração mariano do México e da América, para proclamar a santidade de Juan Diego Cuauhtlatoatzin, o índio simples
e humilde que contemplou o rosto dócil e sereno da Virgem de Tepeyac, tão querido a todas as populações do México.
Ao acolher a mensagem cristã, sem renunciar à sua identidade indígena, Juan Diego descobriu a profunda verdade da nova humanidade, em que todos são chamados a ser filhos de Deus em Cristo.
Esta nobre tarefa de edificar um México melhor, mais justo e mais solidário, exige a colaboração de todos. Em particular, hoje em dia é necessário apoiar os indígenas nas suas aspirações legítimas, respeitando e defendendo os valores autênticos de cada um dos grupos étnicos.
O México tem necessidade dos seus indígenas e os seus indígenas precisam do México! Amados Irmãos e Irmãs de todas as etnias do México e da América, ao exaltar neste dia a figura do índio Juan Diego, desejo expressar-vos a proximidade da Igreja e do Papa em relação a todos vós, enquanto vos abraço com amor e vos animo a ultrapassar com esperança as difíceis situações por que estais a passar.
Amado Juan Diego, a “águia que fala”! Ensina-nos o caminho que conduz para a Virgem Morena de Tepeyac, para que Ela nos receba no íntimo do seu coração, dado que é a Mãe amorosa e misericordiosa que nos orienta para o Deus verdadeiro”.»
Nesta canonização é relevado o papel dos índios, que ainda sofrem muita segregação e discriminação em toda a América em contraste com o acolhimento que o Papa, em nome da Igreja universal, lhes faz. Durante a visita pastoral, em que Sua Santidade procedeu à canonização de Juan Diego, o Presidente da República do México beijou publicamente o anel do Papa, quebrando uma tradição anticlerical desde a independência do estado mexicano, que obrigava a uma separação completa e evidente entre a Igreja e o Estado, impedindo os políticos de mostrarem a suas inclinações religiosas.
O Santuário de Guadalupe recebe cerca de 15 a 20 milhões de peregrinos por ano.
Esta aparição marca a Evangelização do continente americano.

Adaptado de Os Santos de João Paulo II, Orlando de Carvalho, Lusodidacta, 2004

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