segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Vaidades, só vaidades. Esterco, de esterco.




Deitas-te de noite com esse belo corpo, mas vê como acordas de manhã.
De dentro de ti expulsas o que em ti há. Urinas em várias as tonalidades, defecas em todas as consistências, cospes expectoração de aspecto variado, do lacrimejar resta o sedimento rameloso, fedes a transpiração, dos pés, das axilas, da intimidade, a almofada prova a queda de cabelo e de caspa. As pilosidades e as unhas cresceram mais um pouco. Certo dia começarás a sentir também as junções ósseas e as articulações emperradas a negarem-se a movimentos e a causarem dores quando tentas usá-las.
Esterco gerando esterco.
Finalmente erguido, lavas-te, perfumas-te, passas creme e pente.
Vaidades, só vaidades.
E comes. Não o que precisas, como os pobres, ou menos do que precisas, como os desgraçados, mas enches-te, de esterco que passado um dia vais excretar.
Até aqui, és apenas um animal ou vegetal, embora te delicies mais a consumir que eles.
Mas, sabemos que há mais esterco.
Abres a boca e expeles maledicência. Esse esterco que cospes pela boca é pior que os outros. Conspurcas, não apenas as coisas, mas as pessoas. Manchas até o nome de Deus. Pela boca desonras o pai, a mãe, o irmão, a irmã, a esposa, o esposo, os filhos, as filhas, os amigos e amigas.
A semente de todo este mal reside na tua cabeça e no teu coração.
Não digas nada que não tenhas pensado primeiro. Nada faças que não tenhas repensado antes.
Quando já não vomitares esterco, é porque ele foi limpo de dentro de ti. A tua voz não pode poluir quando dentro do cérebro e do coração tudo estiver limpo e desinfectado.
Cuida-te, não vás acordar um dia e já ter morrido e nem te conseguires reconhecer, pensando que aquele dejecto que vês não és tu.


Sem comentários:

Enviar um comentário