terça-feira, 25 de abril de 2017

MELHOR DO QUE «VER PARA CRER» É «CRER PARA VER»




MELHOR DO QUE «VER PARA CRER» É «CRER PARA VER»
(Segundo Domingo da Páscoa ou da Divina Misericórdia)

A. Um dia com 192 horas
1.Cada dia tem 24 horas. Mas há um dia — em Outubro — com 25 e outro dia — em Março — com 23 horas. E, depois, há o dia de Natal e este dia de Páscoa com 192 horas. Não é engano, é a verdade. A Páscoa, tal como o Natal, é um dia com 192 horas. É um dia que se estende por oito dias, até hoje. Aliás, já Santo Atanásio, no século IV, chama ao Domingo da Páscoa o «grande Domingo». Este «grande Domingo» converte-se em «Domingo grande». Como é que um Domingo tão intenso não haveria de se transformar num Domingo extenso?
É por isso que, desde o Domingo da Páscoa até hoje, o prefácio da oração eucarística menciona «este dia [e não «este tempo»] em que Cristo, nossa Páscoa, foi imolado. E é por isso também que os salmos de Laudes, Vésperas e Completas são os mesmos de Domingo da Páscoa da Ressurreição.

2.Assim sendo, não estamos no tempo depois da Páscoa. De resto, um cristão nunca pode viver depois da Páscoa. Um cristão tem de estar sempre em Páscoa. Em bom rigor, hoje ainda estamos no Dia da Páscoa. É este extenso — e muito intenso — Dia da Páscoa que abre o Tempo Pascal, que nos vai levar até ao Pentecostes. Este Tempo Pascal não é um tempo que sucede à Páscoa. É um tempo que celebra a Páscoa e que nos conduz ao tempo em que se há-de vivenciar a Páscoa, isto é, todo o tempo da nossa vida.

O Tempo Pascal é, pois, inseparável de uma Vida Pascal, de uma vida inteiramente «pascalizada». A Páscoa acende uma luz que não se apaga inaugurando um dia que não se extingue.
B. As sete designações para este Domingo
3. Este dia de oito dias é a «Oitava da Páscoa». «Oitava da Páscoa» não é, contudo, a única designação para este Domingo. De resto, este Domingo é conhecido por sete nomes: 1) «Oitava da Páscoa», 2) «Domingo in Albis» (Domingo Branco), 3) «Domingo Quasímodo», 4) «Domingo Novo», 5) «Pascoela», 6) «Domingo II da Páscoa» e 7) «Domingo da Divina Misericórdia».
Já o Antigo Testamento, no Livro do Levítico, apresenta o «Oitavo Dia» com o mesmo estatuto do «primeiro dia» (cf. Lv 23, 39). Ambos são dias de festa, ambos são dias de descanso.

4.A tradição cristã liga a Ressurreição quer ao «primeiro dia», quer ao «oitavo dia». O próprio Cristo é «o primeiro e o último» (cf. Ap 1, 11). A Igreja habituou-se a apresentar o «Oitavo Dia» como o «Dia que o Senhor fez» ou, mais sucintamente, como o «Dia do Senhor», isto é, «Domingo».

É por tudo isto que um dos textos mais antigos — a denominada «Epístola de Barnabé» — indica expressamente que os cristãos guardavam «o “oitavo dia”», qualificando-o como «o dia em que Jesus Se levantou dos mortos».
C. Significado da «Oitava da Páscoa»
5. É curioso notar que, conforme nos refere o Antigo Testamento, a festa dos tabernáculos e a festa da dedicação do Templo já tinham «oitava» (cf. Lv 23, 26; 2Cr 7, 9). Daí que algumas fontes baptismais e alguns túmulos cristãos tivessem a forma de octógonos.
A introdução da «oitava» terá acontecido por ocasião da dedicação das Basílicas de Jerusalém e de Tiro, cujas festas duraram oito dias. Posteriormente, algumas festas litúrgicas passaram a incluir «oitavas». As primeiras foram a Páscoa, o Pentecostes e, no oriente, a Epifania. Seguiu-se o Natal, que também recebeu a sua «oitava». As festas de São Pedro e São Paulo, São Lourenço e Santa Inês foram igualmente distinguidas com «oitavas».

6.Chegaram a ser tantas as «oitavas» que a Igreja viu-se na necessidade de as catalogar. Assim, havia as «oitavas privilegiadas», as «oitavas comuns» e as «oitavas simples». As «oitavas privilegiadas» eram, por sua vez, subdivididas em «oitavas privilegiadas de primeira ordem, de segunda ordem e de terceira ordem».

Em 1955, foi suspensa a maior parte das «oitavas», mantendo-se apenas as da Páscoa, Natal e Pentecostes. Finalmente, em 1969, foi extinta a «oitava do Pentecostes», subsistindo as outras duas.
D. Um dia para tocar, de modo especial, a misericórdia de Deus
7. Este Domingo da Oitava da Páscoa também foi conhecido, em tempos, como «Domingo in Albis», ou seja, «Domingo Branco». Com efeito, era neste Domingo que os baptizados na Vigília Pascal vinham entregar a túnica branca que tinham recebido e que usavam durante a semana a seguir à Páscoa. Já agora, este Domingo recebeu igualmente o nome de «Domingo Quasímodo» por causa das primeiras palavras da antífona de entrada da Missa. São palavras extraídas da Primeira Epístola de São Pedro (2,2): «Como crianças recém-nascidas, desejai o leite espiritual». Em latim aquele «como» diz-se «quasi modo».
Também há sinais de os cristãos de fala grega denominarem este Domingo como «Dominica Nova» (Domingo Novo), em homenagem à vida nova recebida na Páscoa, pelo Baptismo. Entre o povo há quem, como sabemos, tome este Domingo como «Domingo de Pascoela», termo que significa «pequena Páscoa».

8.Oficialmente, este é o «Domingo II da Páscoa» ou «da Divina Misericórdia». Esta última designação foi determinada a 30 de Abril de 2000, data que nesse ano também coincidiu com o segundo Domingo da Páscoa. Foi nesse dia que São João Paulo II canonizou Santa Faustina Kowalska, polaca como ele.

A esta religiosa, que faleceu em 1938, Jesus pediu que pintasse uma imagem Sua, que deveria conter a inscrição «Jesus, eu confio em Vós». Também pediu que essa imagem fosse venerada no mundo inteiro e, de modo solene, no domingo após o Domingo de Páscoa. Refira-se que esta santa é a grande apóstola da misericórdia, sobretudo através dos seguintes meios: devoção à Imagem da Misericórdia Divina; Terço da Divina Misericórdia; Festa da Divina Misericórdia; Novena da Divina Misericórdia; e Oração das três horas da tarde (em memória da hora da Sua morte).
E. Feliz é quem crê porque vê
9. Nas revelações que fez a Santa Faustina, Jesus disse que, especialmente neste dia, «estão abertas as entranhas da Minha Misericórdia. A alma que seconfessare comungar alcançará o perdão das suas penas e culpas. Neste dia, estão abertas todas as comportas divinas pelas quais fluem as graças. Que nenhuma alma tenha medo de se aproximar de Mim».
Foi esta a misericórdia que Jesus prodigalizou a Tomé «oito dias depois» da Ressurreição (cf. Jo 20, 26). No dia da Ressurreição, Tomé não estava com os outros discípulos. Não viu — nem ouviu — Jesus e, por isso, não acreditou (cf. Jo 20, 25). Quando parecia que Tomé tinha desistido de Jesus, eis que Jesus volta mostrando que não tinha desistido de Tomé.

10.Jesus não desiste de Tomé. Jesus não desiste de nós. Como fez a Tomé, também vem ao nosso encontro, também Se deixa tocar por nós. Também nos convida a meter a nossa mão no Seu lado (cf. Jo 20, 27). É pelo Seu lado ferido que Jesus sara as nossas feridas. A Confissão e a Comunhão são, hoje em dia, o grande modo de «tocar» em Jesus e de nos deixarmos «tocar» por Jesus. Foi à Igreja, representada pelos discípulos, que Jesus confiou a missão de distribuir o Perdão (cf. Jo 20, 22). Foi à Igreja, sinalizada pelos mesmos discípulos, que Jesus entregou a missão de distribuir o Pão (cf. 1Cor 11, 24).

Digamos a todos o que os discípulos disseram a Tomé: «Vimos o Senhor» (Jo 20, 25). E que felizes nós somos porque vemos o Senhor! Vemo-Lo, estamos sempre a vê-Lo, na fé. Esta é a Bem-Aventurança que alimenta a nossa esperança! Melhor do que «ver para crer» é «crer para ver». Feliz não é quem crê porque vê. Feliz é quem vê porque crê. Nós não acreditamos porque vemos. Nós vemos porque acreditamos. E na fé não há limites. A fé é ilimitadamente «vidente». Na fé conseguimos ver até o invisível. Em vez de «ver para crer», habituemo-nos, então, a «crer para ver». Quem acreditar nunca deixará de encontrar. São os «óculos da fé» que nos guiarão pelas estradas do mundo. São os «óculos da fé» que iluminarão a nossa vida com um amor sempre mais profundo!

Autor: Cónego João António Pinheiro Teixeira

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