quinta-feira, 15 de junho de 2017

Corpus Christi



Houve uma reunião de catequistas na paróquia, em que uma senhora, desconhecida para mim, nos foi apresentar a Carta de João Paulo II, Mulieris Dignitatem, Sobre a Dignidade e a Vocação da Mulher, por ocasião do Ano Mariano. Como o documento é de Agosto de 1988, presumo que os acontecimentos tenham tido lugar durante o ano catequético 1988/89. Eu era apenas um caloiro nas andanças da catequese.
A senhora começou por falar da carta e da dignidade da mulher, mas rapidamente começou a fazer considerações sobre a Eucaristia. Não me lembro como ela conseguiu dar o salto. Ela explicou que se tinha chegado à conclusão que a presença de Jesus na hóstia consagrada era uma coisa espiritual, que se tratava apenas de uma questão de estabelecer a comunhão entre os fiéis presentes, mas que não podíamos admitir estar a mastigar a carne de Nosso Senhor. A sua dissertação foi bastante longa. Explicou que estava a ensinar estas coisas porque éramos catequistas, mas que não se podiam revelar desde já ao povo, porque não estava preparado para receber estes ensinamentos. Novato, talvez no meu segundo ano de catequista, não me atrevi a colocar perguntas. No final conversei com outros catequistas, não mais de dois e, naquele sábado não mexi mais no assunto.
Logo no início da semana, para que não arrefecesse em mim a indignação, fui ao gabinete do Padre Carlos, para lhe expor a situação. Fui bastante cauteloso. Se o pároco tinha enviado a senhora para nos falar, devia estar de acordo com o que ela quis ensinar e eu precisava saber o que ele pensava, não o que me iria dizer, para apaziguar a minha reacção.
Assim, falei-lhe das afirmações que a senhora fizera, como sendo interrogações que eu me fazia e que colocava ao Padre Carlos.
Eu precisava saber qual era o pensamento dele. Eu tinha decisões para tomar.
Perante as dúvidas apresentadas, e o meu desejo expresso em saber qual era o seu pensamento sobre o assunto, o Padre Carlos disse que acreditava em tudo aquilo que eu já acreditava também, conforme o ensinamento e a fé da Igreja.
Confessei então que estava a passar uma espécie de rasteira, uma espécie de teste. Ou o Padre Carlos acreditava no mesmo que eu e as coisas entre nós continuavam como dantes, ou acreditava no mesmo que a senhora e eu não daria mais catequese naquela casa, nem frequentaria ali a missa.
Graças a Deus estávamos em sintonia. Explicou-me que não conhecia a senhora e que lhe pedira para falar aos catequistas porque lhe tinha sido recomendada por determinadas pessoas em quem ele tinha confiança. Ouviu outros catequistas que tinham estado presentes na conferência e depois de tudo confirmar, excluiu a hipótese de futuras colaborações da dita pessoa e tratou que chegasse aos catequistas presentes na reunião informação desmentindo o que lá tinha sido dito. Mas logo no momento em que conversámos deu-me a ler a sequência do dia do Corpo de Deus, que rezamos facultativamente na missa desta solenidade.

SEQUÊNCIA
Terra, exulta de alegria,
Louva o teu pastor e guia,
Com teus hinos, tua voz.

Quanto possas tanto ouses,
Em louvá-l’O não repouses:
Sempre excede o teu louvor.

Hoje a Igreja te convida:
O pão vivo que dá vida
Vem com ela celebrar.

Este pão – que o mundo creia –
Por Jesus na santa Ceia
Foi entregue aos que escolheu.

Eis o pão que os Anjos comem
Transformado em pão do homem;
Só os filhos o consomem:
Não será lançado aos cães.

Em sinais prefigurado,
Por Abraão imolado,
No cordeiro aos pais foi dado,
No deserto foi maná.

Bom pastor, pão da verdade,
Tende de nós piedade,
Conservai-nos na unidade,
Extingui nossa orfandade
E conduzi-nos ao Pai.

Aos mortais dando comida,
Dais também o pão da vida:
Que a família assim nutrida
Seja um dia reunida
Aos convivas lá do Céu.

A autoria deste tratado de teologia eucarística é atribuída a São Tomás de Aquino que o terá composto a pedido do Papa Urbano IV

Orlando de Carvalho

Sem comentários:

Enviar um comentário