terça-feira, 29 de agosto de 2017

Comungar como?




Parece estar cada vez mais na moda o desrespeito pelo modo como se comunga, que aparentemente é o mesmo que dizer a falta de respeito por Nosso Senhor.
Outra moda cada vez mais recorrente são os conselhos acerca da maneira de comungar sempre com alusões à influência diabólica que leva a que o comungante faça sangrar o Corpo de Cristo, o espezinhe e humilhe, enfim que se comporte como verdadeiro diabrete infligindo torturas na humanidade do Filho de Deus.
Sem nos alongarmos neste primeiro artigo de uma série que publicaremos sobre este tema, salientamos na generalidade estes dois aspectos que deviam afligir todos os crentes.
A Igreja estabeleceu, com o decorrer do tempo, e à medida que melhor compreendia o Mistério da Eucaristia, regras para comungar. Posteriormente, a experiência veio ajudar a mesma Igreja a modificar e melhorar tais regras, eliminar algumas, e a completá-las. Estas normas não podem ter outra finalidade para além de ajudar o fiel a tirar o maior partido da comunhão. Jesus deixou-nos a comunhão para o nosso bem, não para o bem de Deus, para que possamos ser mais felizes. A proximidade da Eucaristia enche de alegria os corações dos fiéis.
Então, percebemos que quem comunga sem respeito, não pode estar concentrado no que está a acontecer, na união que se está a estabelecer entre si e Jesus, na união dos dois corações e das duas almas. É como quem olha para o céu e não vê o sol nem as nuvens, porque está entre arranha-céus que lhe tapam a visão; é como quem escuta o correr de um ribeiro, sem nada aproveitar porque tem auscultadores com música ruidosa a encher-lhe os ouvidos; é como quem atravessa um campo de alfazema ou de hortelã, mas sofre de alergias e tem o nariz entupido e não sente qualquer odor.
Os preceitos sobre a comunhão só fazem sentido se ensinarem e ajudarem as pessoas a usufruir deste maravilhoso e extraordinário Dom que Jesus nos deixou.
Sobre os prejuízos causados à pessoa de Nosso Senhor, aos gritos que alguns dizem escutar quando alguém pisa uma migalha de pão concentrado, às gotas de sangue derramado no chão da igreja, que outros dizem ver, como se fosse no Calvário pingando do corpo adorável do Senhor, devemos aplicar o mesmo raciocínio. Jesus humilhou-se ao ponto de encarnar do seio de sua Mãe Santíssima, sabendo o fim que o esperava e que Ele abraçou por amor a nós, não recuando no seu intento para evitar o sofrimento na Cruz. Agora quem O pregou ou mandou pregar na cruz, esses terão tido grande surpresa ao chegarem depois da morte junto do Criador e percebendo o mal que tinham cometido. Com que consequências!
Os menores pedacinhos de pão consagrado, verdadeiro Corpo do Senhor, merecem o nosso respeito, amor e adoração. A catequese que é preciso e urgente fazer refere-se ao enorme bem que tais migalhas são para o conforto, bem-estar e felicidade, de nós mesmos e não ao medo do castigo que está reservado a quem não lhes der a devida atenção, comparando-o aos algozes de Jerusalém.
De que sentimentos necessita quem desejar comungar?
Em primeiro lugar, caridade.
Depois, amor a Deus.
Finalmente, amor ao próximo.
E ainda uma compreensão, que lhe venha do anúncio do Evangelho, sobre o significado da comunhão, e que resulte também da abertura do coração e da mente ao ensinamento inspirado pelo Espírito Santo acerca da comunhão.
Tudo o que é importante sobre este sacramento deriva daqui e se resume a isto.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo, fruto do ventre sagrado da Virgem puríssima Santa Maria.

Orlando de Carvalho

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

O Céu é uma festa



O nosso prior chegou aos 50 anos. A comunidade reuniu-se, chamou a família do aniversariante, e fez uma festa, esforçando-se para que fosse uma festa à maneira de Jesus.
Começámos com a Santa Missa e passámos ao alimento do corpo, com comida, bebida, animação, convívio e muita amizade.
O prior é do Sporting. Todos sabemos quanto ele gosta do Sporting. Nunca falta ou se atrasa a uma missa por causa de um jogo de futebol, porque mais, muito mais, que gostar do Sporting, ele ama Deus e o seu povo.
O bolo foi decorado com uma caneca do Sporting e um terço do Rosário. A maior parte dos convivas corresponderam ao pedido para levarem uma peça de roupa verde. A festa estava cheia de símbolos leoninos.
Os paroquianos foram capazes de se despir dos amores clubísticos em nome de um amor maior, a unidade e comunhão dos filhos de Deus, a tentarem viver à maneira dos anjos no Céu: com amor e acima de tudo com mais amor ainda.
Neste mundo tudo seria bem melhor se fôssemos capazes de nos despirmos do mundanismo e de pôr o amor ao próximo acima de tudo.
Fizeram-me lembrar o meu pai, benfiquista, que diz torcer às vezes pelo para ver o filho contente.
No fim, mesmo no final, não vai ganhar aquele que tiver a bomba mais poderosa, nem o mais esperto, nem mesmo o mais inteligente, mas simplesmente o que for capaz de amar com mais força, pois na grande guerra que se desenrola desde o início dos tempos, entre o amor próprio e o amor ao outro, é o amor ao próximo que vai vencer, ainda que esmagado por alguma bomba atómica maluca.
O amor não morre. O amor vence sempre.
Seremos nós capazes de colocar o amor ao outro acima da paixoneta clubística?

Orlando de Carvalho

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Este Papa



Duzentos e sessenta e seis papas é muito tempo, muita História e muitas histórias, são muitos milhares de padres e milhões de baptismos, são dois mil anos!

Como poderiam o Papa São Pedro e o Papa Francisco ter ideias semelhantes? Os tempos são outros, também os costumes, a cultura, o desenvolvimento, a técnica, enfim, o conhecimento e o progresso. Todavia, talvez possam haja mais parecenças entre os dois do que se poderia pensar.

Os fiéis olham em direcção ao Vaticano e sentem-se mais perto deste papa, pescador e pastor, Francisco, do que outros fiéis se sentiram de papas anteriores, de famílias aristocratas que viverem fidalgamente. Francisco parece mais um homem rude e simples do povo que um membro da nobreza.

Agradando a uns mais que a outros, idolatrado por muitos – que nem sempre são católicos! – e maldito para alguns, o Papa Francisco marca uma fractura na linha do tempo da Igreja.

Uns e outros, notando a diferença entre o Papa Francisco e as atitudes habituais dos seus antecessores mais próximos, referem-se-lhe muitas vezes como Este Papa.

Aqueles que reconhecem no Papa Francisco um elo e uma continuação do mandato instituído por Jesus na pessoa de Pedro, referem a expressão Este Papa com ternura, querendo simbolizar que lhe reconhecem a autoridade evangélica que caracterizava Jesus, como é citado em Mateus 7,29.

Outros falam de Este Papa, com desprezo, significando que Francisco não é verdadeiramente papa mas antes obra do diabo, algo que está a complicar a engrenagem da Igreja, alguém que quer limpar da Igreja o pecado com uma intensidade que, embora venha na continuação do fizeram os papas mais recentes, incomoda muitos interesses instalados.

O papa que chegou da Argentina é hoje papa foram outros santos papas que o antecederam; os fiéis, todos nós baptizados e membros da Igreja, devemos tratá-lo com a mesma atitude com que tratámos o Beato Paulo VI ou São João Paulo II, por exemplo. Deixemos de colocar em primeiro lugar a sua diferença ou semelhança com outros papas e tratemo-lo com a dignidade devida: apenas por Papa Francisco. Ele ama esta simplicidade e nós fazemos-lhe maior justiça designando-o pelo que é, e não pelos seus atributos.

Papa Francisco! Nem mais nem menos. Nem este papa nem aquele papa, apenas o pastor que Deus concedeu à sua Igreja, ao seu povo.

Para o bem maior da Igreja, pela unidade tão querida a Deus, falemos apenas do Papa Francisco e nunca mais de “este papa”. Uma encíclica é do papa, da Igreja, não deste papa.

Deus abençoe a sua Igreja e o seu povo e seja louvado pelo grande dom que nos concedeu, o Papa Francisco.



Orlando de Carvalho


quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Notas sobre a formação para catequistas (1)

A formação de catequistas realiza-se em grupo. Pela partilha de conhecimentos adquiridos e em aquisição e de experiências vividas.

A formação leva em conta a experiência do catequista. Ilumina esta experiência e aproveita-se dela.

A formação opera uma transformação. Suscita e faz crescer a relação do catequista com Aquele que ele anuncia.

A formação nunca está terminada. Os catequizandos são diferentes de ano para ano e a catequese actualiza-se para servir os catequizandos, assim também os catequistas.

Orlando de Carvalho

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Parábolas e catequese


A pedagogia da parábola é de levantar questões e não de dar respostas.



Um idoso colocou a seguinte questão a um grupo de jovens:

- Qual é o momento em que a noite acaba e começa o dia?



Eles foram respondendo:

- Quando consigo ver a silhueta das árvores…

- Quando o galo canta…

- Quando os raios solares me despertam…

- Quando consigo distinguir ao longe um coelho de uma lebre…



O idoso sábio respondeu então:

- É quando olhares o rosto de uma pessoa e nele reconheceres o do teu irmão ou da tua irmã. Até então, será noite no teu coração.



(história da sabedoria popular)



Orlando de Carvalho