segunda-feira, 9 de outubro de 2017

As Paróquias de Góis ganharam um avô



Os avós são cuidados pela família, nas limitações que lhes são impostas pela idade, tal como acontece com os bebés e, em proporções diversas, com todos os membros dos diferentes grupos etários.
Há avós que necessitam de cuidados especiais e são cuidados num lar ou noutro lugar consoante os casos específicos. Há avós que sofrem a humilhação de ser escorraçados pela família, pelos seus descendentes, porque são considerados não mais que um estorvo ou um empecilho. Embora muitas pessoas acreditem que estas situações de maus tratos aos idosos e mesmo de violência doméstica são um fruto do nosso tempo, estão enganadas. Sempre existiram filhos e netos que trataram os avós com carinho e ternura e outros que os abandonaram e humilharam.
Muitos padres são avós sem família. Alguns têm irmãos, sobrinhos e sobrinhos-netos que os acariciam, mas nem todos.
O padre é um homem que abdicou de constituir família e descendência, abraçando como sua família a Igreja, um corpo do qual Jesus é cabeça e coração e de que os outros fiéis são os membros. No caso mais comum das paróquias, é um corpo de que os paroquianos são os restantes membros.
Os paroquianos não suportam apenas a existência do padre como alguém que lhes é imposto. Não! Procuram o padre para se casarem, para baptizarem os seus filhos, para orientar os seus filhos em idade de catequese, para lhes dar então a comunhão pela primeira vez, para presidir às missas em que participam, e a todos os outros sacramentos, incluindo a Santa Unção e as cerimónias fúnebres quando é chegado esse tempo.
Conheci um padre que ao Domingo, depois da última missa da manhã, costumava almoçar na cervejaria Riba Douro, marisco muito caro, com os outros padres da paróquia que ele convidava. Mas uma parte, talvez a maior parte dos padres, almoça sozinho ao Domingo depois de ver as famílias partir, no final da última missa da manhã de Domingo, para um descansado almoço de família.
Um pai dá-se aos filhos por que adquiriu essa obrigação ao gerá-los. Um padre faz a opção de se dar aos paroquianos que o bispo lhe indicar. Quem recorre ao padre, quando necessita, não pode esquecer que ele não é um funcionário público, mas alguém que trabalha por amor, que se entrega por amor e que só com amor pode ser pago.
No Domingo 15 de Outubro, o padre Carlos Santos despede-se das paróquias de Góis, Vila Nova do Ceira, Cadafaz e Colmeal. Durante quase quarenta anos, este sacerdote serviu esta população, como foi capaz, sempre expectante no auxílio do Senhor para desempenhar o melhor possível a tarefa de pastoreio. Vimos, nos últimos anos, um homem com mais de oitenta anos a percorrer as estradas do concelho, guiando à velocidade necessária para acudir ao menos aos principais momentos litúrgicos e pastorais em que os fiéis o aguardavam. Parece que não recusou a sua presença e bênção, por mais difícil que fosse a sua agenda, em todas as necessidades ou aflições. Acudiu à cabeceira de doentes e moribundos. Auxiliou os que o demandaram, conforme pode. E a Igreja permitiu que este homem de oitenta anos, embora com óptimas faculdades físicas e mentais, desempenhasse sozinho tais funções?
É chegada a hora de dar graças a Deus, pelo pastor que enviou a estas terras, e ao pastor pela abnegação com que desempenhou o serviço. Não se trata de um adeus, nem de um in memoriam, mas da celebração jubilosa que se impõe por parte do bispo, pastor da diocese e de todos os paroquianos, rebanho assistido.
Este avô tem que ser cuidado pelas suas paróquias como avô. Aqueles que desprezam os velhotes das suas famílias, que se abstenham de alguma participação. Aos outros compete formalizar alguma homenagem e posterior acompanhamento. As árvores devem morrer de pé não relegadas ao esquecimento.
Padre Carlos,
Já não o pai e o pastor destas suas paróquias, mas de agora em diante o avô, abrace os seus netos e permita que cuidem de si.
Fica lançado o desafio a todos os cristão, a todos que em algum momento o procuraram, fosse para um baptismo ou para uma missa de exéquias, para que se realize uma despedida jubilosa das funções pastorais do padre Carlos e para o seu posterior enquadramento na Igreja que ama. Cuide também cada um de se inteirar das condições em que o padre Carlos vai continuar a viver, para que sejam dignas e do seu agrado.
Quanto aos defeitos do homem, em que alguns podem estar a pensar, aplicam-se-lhes as palavras de Jesus e quem estiver isento de defeitos que lance a primeira pedra.
Bem haja Padre Carlos.
Louvado seja Deus por esta graça nas serras beirãs.


Sucinta cronologia do Reverendo Padre Carlos da Cruz Cardoso

O Padre Carlos nasceu em 25 de Março de 1935, Festa da Anunciação, na paróquia de Febres, diocese de Coimbra.
Entrou para o Seminário da Figueira da Foz em 26 de Outubro de 1947, aos 12 anos de idade, e foi ordenado presbítero na Sé Nova de Coimbra, por D. Manuel de Jesus Pereira (Bispo Auxiliar de Coimbra), em 15 de Agosto de 1959, na Solenidade da Assunção de Nossa Senhora.

Cargos desempenhados


  • Nomeado Coadjutor na Paróquia de Taveiro, em 19 de Outubro de 1959
  • Nomeado Pároco de Carvalho, em 13 de Agosto de 1961
  • Nomeado Pároco de Benfeita, Cerdeira e Teixeira, em 3 de Outubro de 1976
  • Nomeado Pároco interino de Coja, em 7 de Setembro de 1978
  • Nomeado Pároco de Góis e Celavisa, em 24 de Novembro de 1979
  • Nomeado Pároco de Vila Nova do Ceira, em 24 de Outubro de 1982
  • Nomeado Pároco de Colmeal e Cadafaz, em 9 de Novembro de 1986
  • Nomeado membro do Conselho Presbiteral da Diocese em Março 1990
  • Novamente nomeado Pároco de Vila Nova do Ceira, em 15 de Abril de 2013.
  • Desempenhou as funções de Director do Jornal O Varzeense de Janeiro de 1984 a Junho de 1999.
  • Despedida de pároco de Góis, Cadafaz, Colmeal e Vila Nova do Ceira agendada para 15 de Outubro de 2017, aos 82 anos.




Orlando de Carvalho



1 comentário:

  1. Excelente comentário que comove e nos deve mover pela verdade nua e crua e pela urgência com que deve ser encarada a problemática de quem tanto se dá aos outros, sem o aconchego próximo e tonificador da família e depois corre o risco de acabar sozinho quando mais precisava do conforto e solicitude quente da proximidade solidária.

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